O poder das novelas

Volto a falar das novelas nesta semana. Elas ditam moda, batismos e criam tendências. Da época de O Clone (2001), quem não conhece uma mulher que foi encarar a dança do ventre por causa dos passos de Jade (Giovanna Antonelli)? As roupas da Babalu de Letícia Spiller, em Quatro por Quatro também viraram moda nos anos 1990. Elegante não era, mas tinha muita menina vestida com as cores berrantes da namorada do Raí (Marcello Novaes).

As novelas também costumam inspirar nomes de muitas crianças. Em 1987, Marília Pêra era a elegante e milionária Rafaela, em Brega & Chique. Na trama das 19h, de Cassiano Gabus Mendes, a madame perdeu tudo, ficou na miséria. Teve de recomeçar na pobreza. Nessa fase desfavorecida, Marília protagonizou cenas hilárias ao lado de Marco Nanini. Era a dondoca que nunca tinha limpado a casa, lavado roupa e trabalhado fora. Rafaela, não por acaso, é o nome de muitas mulheres de 27 anos de hoje. E você não precisa ir longe para encontrar Helenas que ganharam este nome em homenagem a uma das diversas protagonistas de Manoel Carlos.

Mas é preciso ter cautela quando pensamos em seguir a moda, gírias e nomes das novelas e séries de TV. Não é aconselhável sair por aí com a blusa estampada e a calça xadrez do malandro Agostinho Carrara de A Grande Família. Na série, Agostinho já foi candidato a deputado. E, é claro, não foi eleito. Afinal, pelo menos na ficção, o povo não deu crédito às promessas do pilantra.

É importante lembrar que personagens podem motivar pessoas. Em Vale Tudo, de 1988, Raquel Acioli (Regina Duarte) ficou sem teto depois que a filha Maria de Fátima (Glória Pires) passou a mãe para trás e vendeu a casa em que as duas moravam para sair de Foz do Iguaçu e seguir para o Rio de Janeiro para subir na vida. Raquel se mudou para a Cidade Maravilhosa, começou fazer e vender salgados na praia. Abriu um restaurante, conquistou fama e dinheiro. Enquanto isso, a vilã Fátima caía em desgraça ao tentar vencer sem esforço. É o poder das novelas.