Himenoplastia torna a mulher virgem novamente?

O conceito de virgindade foi construído pelas sociedades embasadas na anatomia da mulher pela presença de uma famosa membrana, “o hímen”. Desta maneira, o conceito pode variar muito entre as culturas que valorizam a integridade desta estrutura, dependendo de aspectos religiosos e sociais.

A himenoplastia corresponde a uma técnica de cirurgia que tem por finalidade reconstruir hímens rompidos. Lembrando que esta estrutura também pode variar na sua forma, tamanho e espessura, além de existirem situações de ausência congênita.

O hímen, na primeira infância, por se apresentar mais espessado, protege a vagina de infecções. E à medida que a mulher amadurece, a membrana se torna muito mais fina e delicada, existindo também muitas variações anatômicas, como, por exemplo, o hímen anelar, mais comum, e o cribiforme, cheio de pequenas perfurações e mais raro.

Até outro dia, pensava que esta prática cirúrgica teria caído em desuso. Me enganei.

Esta semana, no consultório, fui surpreendida por várias pacientes me questionando sobre o assunto. A principal dúvida tratava da garantia da virgindade, ou seja, “quero minha virgindade de volta, doutora”, foi o que ouvi.

A resposta é sim, o hímen pode ser reconstruído, mas a sua integridade como indicação de virgindade é relativa e enganadora. E posso explicar: esta membrana pode ser destruída por atividade ou traumas físicos diversos, como equitação, ciclismo ou algum movimento mais abrupto.

Lembro ainda que existe uma forma de hímen elástico (complacente), que não se rompe nem no coito, o que quer dizer que, nestes casos, seguindo o conceito de que a integridade do hímen é certeza de virgindade, teríamos as eternas virgens. E o que seria daquelas que nascem sem hímen? Nunca teriam sido virgens na vida provavelmente.

Pude perceber que ainda somos reféns de conceitos que pensávamos superados, haja visto que o hímen, para muitos homens e mulheres, atualmente representa ser ainda símbolo de honra e pureza. E se pensarmos comercialmente, lembra mais um certificado de garantia ou selo de qualidade.

O que temos talvez é que continuar nossa reflexão e não nos deixar enganar por tema tão superado.

Se você tem alguma dúvida, converse com seu médico.