Automóveis e camionetes são um sonho de consumo dos brasileiros. Exagerando, é voz corrente entre a população que o brasileiro é apaixonado por carro. Por isso a escolha de um veículo representa momento ao qual o consumidor costuma dar importância especial. Todavia, o que tem sido possível observar no mercado, é uma falta de orientação e educação para este tipo de consumo. As empresas que compõem a cadeia de fornecimento só se preocupam em vender, sem cumprir seu dever de informar e conscientizar o consumidor para que o consumo deste tipo de produto siga diretrizes mais valiosas. Praticamente, não há educação para o consumo nesta área. Comece-se pela escolha do veículo para aquisição. O primeiro detalhe levado em consideração costuma ser o preço. E, neste ponto, é freqüente começar os problemas com aqueles que não tendo condições de comprar à vista, são atraídos pelas ilusões do crédito, hoje tão farto. Há publicidade demais nesta área a vender maravilhas nem sempre verdadeiras, pois comprar é apenas o primeiro ato deste tipo de consumo, sendo que usar o veículo e mantê-lo em boas condições demanda muito mais gastos e providências. Mas, desejosos de adquirir de qualquer forma, muitos apenas verificam se a prestação cabe nos seus ganhos, ignorando que uma perda de emprego pode trazer problemas complicados. Na ânsia de comprar, esta espécie de consumidor não se informa corretamente (na verdade, os fornecedores também não ajudam) sobre as taxas de juros e o montante total a pagar, se inebriando com as aventuras do crédito fácil. Ultrapassada esta etapa, vem a escolha do tipo de veículo. E neste ponto continuam os problemas. O mais comum é o brasileiro encaminhar sua escolha observando primordialmente o design do veículo e sua conservação, ou seja, se a aparência externa é moderna e impressiona. Antes de qualquer coisa, preferem um veículo que consideram bonito (um conceito extremamente subjetivo), até pelo tolo hábito de ver o bem como uma forma de demonstrar status social. Na seqüência, habitualmente os consumidores tendem a começar a observar outros detalhes, com destaque para a potência do motor, também um item muito valorizado. E só depois aparecem para consideração, fatores fundamentais como a existência de itens e componentes de segurança (cintos de segurança e vários air bags de geração mais avançada, freios a disco com abs e ebd, etc.) e caracteres como a posição ergonômica do motorista e dos instrumentos (considerando o tipo de banco utilizado), o espaço interno, outros equipamentos contidos no veículo (direção hidráulica, câmbio automático, regulagem de faróis e espelhos, velocidade de limpador de pára-brisas, som, relógios e demais acessórios) e, por último, a economia no consumo de combustível. Aliás, a preferência por veículo movido a determinado tipo de combustível menos lesivo ao meio-ambiente e que percorra mais quilômetros consumindo menos, costuma ser feita por fatores mais de economia, do que por critérios socialmente responsáveis. Ou seja, mais centrada na preocupação de poupar dinheiro, do que em evitar poluição ambiental, um detalhe com elevado grau de importância.
O contesto narrado, embora nem sempre objeto de atenção, é de conhecimento de muitas pessoas, mas gostaríamos de salientar um aspecto que tem sido ignorado pela maioria dos consumidores. Trata-se da questão de, ao escolher o veículo, levar em consideração a segurança sob o ponto de vista social. Referimo-nos à conscientização de que o veículo é utilizado na convivência social. Objetivamente: é instrumento de lazer ou trabalho, mas também pode ser uma arma e deve ser concebido de forma que não agrida aqueles que convivem conosco no trânsito. Um pedestre vítima de atropelamento por veículo projetado sob uma visão de segurança e proteção social tem muito mais chance de sobreviver que outro lamentavelmente atingido por veículo com frente agressiva. Por isso, o consumidor deve ser consciente a ponto de não comprar veículos com características que ofereçam riscos aos pedestres, a exemplo de camionetes e jipes que possuem quebra-mato ou ganchos expostos no pára-choque dianteiro e de automóveis com saliências cortantes em seu capô dianteiro (símbolos das fábricas). Mesmo o veículo cujo design o torna capaz de maiores danos a quem, infelizmente, venha a ser atropelado por ele, evidentemente deve ser evitado. Com esta concepção mais evoluída, a Mercedes-Benz deixou de fabricar automóveis com seu símbolo no capô e a Ferrari retirou o cavalinho que ornava a frente de seus carros. Outras empresas, inclusive, estão projetando seus modelos de automóveis e camionetes procurando formas nas quais a frente do veículo tem ângulos com menor capacidade de machucar quem seja atropelado e até pára-choques e capôs que deformam e retraem quando acontece um atropelamento (alguns até com sensores que antecipam se o choque será com pessoa ou coisa).
No Brasil, muitos daqueles que têm um certo poder aquisitivo, adoram comprar veículos que impressionam pela robustez e agressividade de suas linhas. O consumo consciente, entretanto, recomenda levar em consideração não só a aparência que impressiona aos que vêem, mas também refletir sobre os riscos de, em um acidente, vir atingir uma pessoa cuja sobrevivência dependerá substancialmente da conformação da frente do veículo.
O consumo deve ser praticado como um ato de cidadania e todo este conjunto de detalhes já mencionados, pode fazer a diferença. Aparência e preço não precisam ser ignorados, mas são realmente menos importantes que a preservação ambiental e, principalmente a proteção integral da saúde do motorista e das demais pessoas que circulam no trânsito, ?motorizadas? ou não (pedestres).
Oscar Ivan Prux é advogado, economista, professor, especialista em Teoria Econômica, mestre e doutor em Direito. Coordenador do curso de Direito da Unopar em Arapongas-PR. Diretor do Brasilcon para o Paraná.