Revelações de um Diário Alimentar

Recentemente, ouvi uma frase, que dizia: “O óbvio deve ser dito”. Refleti sobre seu significado e transportei para a área de alimentação e nutrição. Percebi que ignoramos o “óbvio” ao tornar complexos assuntos que deveriam ser acessíveis e compreendidos por todos os cidadãos. No texto anterior, os assuntos abordados foram o Guia Alimentar e os Dez Passos para Alimentação Saudável para a população adulta brasileira. Hoje, o primeiro “passo” que será discutido e é um convite à reflexão. Consecutivamente, serão aprofundadas as demais recomendações.

Faça pelo menos três refeições (café da manhã, almoço e jantar) e dois lanches saudáveis por dia. Parece óbvio. Contudo, o leitor já parou para analisar a quantidade e a qualidade de suas refeições diárias? Proponho um Diário Alimentar: hora, local, companhias, tipo e quantidade de alimentos servidos e ingeridos. Preencha-o durante um dia inteiro durante a semana e um dia no final de semana. Provavelmente, algumas pessoas irão se surpreender com a desregulação dos horários reservados para a alimentação, bem como, irão perceber que não realizam cinco ou seis refeições diárias, incluindo os lanches, mas, que permanecem longos períodos sem ingestão de água e alimentos ou ao contrário, estão constantemente mastigando, deglutindo e digerindo. Irão notar, também, que não realizam as refeições em casa, que cotidianamente optam, em conjunto com os colegas de trabalho ou faculdade, pelo restaurante que oferece a “melhor comida caseira” da cidade. Caseira. Para recordarem dos momentos de união à mesa nos tempos de infância, em casa, na companhia da família, com arroz e feijão. Ainda mantém a tradição do arroz e feijão? E a laranja como sobremesa? Nos lanches, a banana, a maçã, o iogurte? Quantos produtos alimentícios processados pela indústria foram ingeridos durante o dia?

A alimentação saudável talvez seja a mais óbvia possível. Aquela que leva consigo carga maior de tradição e simbolismos, os quais se perdem diariamente na sociedade moderna. O aumento da ingestão produtos alimentícios processados pela indústria, da utilização de substitutos de refeição, como shakes, e do consumo de suplementos alimentares e vitamínicos indiscriminadamente e sem orientação de nutricionista ou médico, além do potencial de prejuízo à saúde, desrespeita a cultura alimentar. O atual e expressivo crescimento da frequência de excesso de peso deve-se, sobretudo à alteração do modo de vida tradicional: ingestão de alimentos com alta densidade energética e baixo valor nutricional, bem como redução das atividades físicas cotidianas. Maior ingestão e menor gasto energético, resultam em ganho de peso. O óbvio deve ser dito e repetido.