O caso da Alergia à Proteína do Leite de Vaca

O significado dos termos alergia e intolerância não é bem compreendido pela maioria da população, sobretudo quando se trata de reações adversas à ingestão de leite de vaca e seus derivados. É preciso alertar que a intolerância à lactose, o açúcar presente nos laticínios, ocorre devido à redução da produção intestinal da enzima que digere a lactose. E por isso leva a sintomas gastrointestinais. Por outro lado, a alergia à proteína do leite de vaca (APLV) refere-se às reações adversas dependentes de mecanismos imunológicos, que podem afetar o corpo todo.

As reações de hipersensibilidade à proteína do leite da vaca dependem do mecanismo imune, a formação de anticorpos específicos e reação inflamatória. Entre as manifestações mais comuns pode-se citar as reações na pele (dermatite), gastrintestinais (inchaço e coceira nos lábios e língua, vômitos e diarreia, gastrite), respiratórias (asma, rinite) e reações sistêmicas (anafilaxia com redução da pressão arterial e choque).

O diagnóstico de APLV deve ser realizado por pediatria especialista. Além disso, devido ao envolvimento de componentes alimentares no desencadeamento da alergia, o acompanhamento nutricional é importante para manutenção da saúde da criança.

O objetivo do tratamento nutricional é evitar o desencadeamento dos sintomas, a progressão da doença, a piora das manifestações alérgicas e proporcionar à criança crescimento e desenvolvimento adequados. O tratamento consiste na exclusão dos alérgenos alimentares, utilização de fórmulas ou dietas hipoalergênicas, para lactentes, e orientação quanto ao aleitamento materno. Os alimentos eliminados, posteriormente, devem ser testados por meio das provas de desencadeamento. Portanto, a acompanhamento clínico e nutricional individualizados são fundamentais.

Dias atrás, uma amiga de muitos anos me procurou preocupada com a filha de um ano e três meses de idade que foi diagnosticada com APLV há nove meses. Ambas vivem em Santa Catarina, e parece que os protocolos para atendimento clínico e nutricional para tratamento de crianças com APLV não funcionam adequadamente no Sistema Único de Saúde (SUS) do município. A ineficácia dos cuidados em saúde nesses casos pode levar a prejuízos irrecuperáveis. Escrevi esse artigo para aumentar o conhecimento da população referente a esse tema, mas, também, para alertar que o tratamento multiprofissional da APLV, bem como, o direito à alimentação adequada são garantidos no SUS. Em 2014, foi lançado pelo Ministério da Saúde o Caderno de Atenção Domiciliar volume 3, que trata, entre outros assuntos, da alimentação e nutrição em casos de APLV.

Por Rubia Daniela Thieme, Nutricionista pela UFPR e é mestre em Segurança Alimentar e Nutricional pela UFPR.
rubiathieme@gmail.com