Zumbis da República

Jaguara, o Animador de Velórios dos Campos Gerais, desceu a serra de São Luiz do Purunã para viajar a Brasília, onde vai acompanhar o processo de impeachment de Dilma Rousseff a pedido da Presidência da República. Se dizendo sinceramente honrado com a lembrança de seus préstimos profissionais, deixou bem claro que – além dos conchavos palacianos com a base governista – também vai fazer questão de acompanhar as sessões no plenário da Câmara dos Deputados:

– Estou acostumado a lidar com muita gente em torno do falecido! O que é o caso do presidente da casa, Eduardo Cunha! – explica o Jaguara.

Tomando um Campari no aeroporto Afonso Pena, o Animador de Velórios fala sobre um fenômeno sobrenatural que vem ocorrendo em Brasília:

– Não tenho medo de assombração. Mesmo assim, me borro nas calças quando tenho que animar velório de zumbis.
– Zumbis em Brasília? Seriam eles descendentes do Zumbi dos Palmares? – perguntou um circunstante que acompanhava a entrevista.

– Não. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. O Zumbi dos Palmares foi o líder negro do Quilombo dos Palmares nas Alagoas. Apunhalado nas costas com mais com vinte guerreiros em 1695, teve a cabeça cortada, salgada e exposta em praça pública, visando desmentir a crença do povo sobre a lenda da imortalidade de Zumbi.

– Então os zumbis da República são os mortos-vivos que vivem perambulando fora do cemitério?- Per

feitamente! A palavra Zumbi, ou Zambi, vem do termo ‘nzumbe‘, no idioma africano. É um fantasma que fica vagando pelas casas a altas horas da noite. Essa criatura é um ser humano dado como morto que na verdade não está morto. Nos meus estudos profissionais, aprendi que devido à ausência de oxigênio na tumba, os mortos vivos seriam reanimados e permaneceriam com morte cerebral, em estado catatônico, amedrontando e comendo gente viva.

– Comendo de que forma? Pelas vias normais?

– Depende. O assustador é que nunca ninguém sobreviveu para esclarecer essa dúvida.

– Vamos dar nome aos bois! – questiona o repórter. Quem são os zumbis que estão perambulando por aí, fora do cemitério?
– São muitos. Dos casos recentes, sem dúvida o mais famoso é o deputado Eduardo Cunha. Cercado de assessores e seguranças, o coitado fica vagando pelos corredores achando que ainda é presidente da Câmara. Só depois de muito perambular em volta da sepultura é que vão convencer o homem a renunciar à vida de zumbi ou se esticar no caixão.

– Seria o mesmo caso da presidente Dilma?

– É o mesmo mistério! O zumbi fica zanzando em volta do caixão, se arrastando pelos cantos. Enquanto não aparecer um bom exorcista, o coitado não entrega o osso. Mas não se enganem: Dilma ainda não está morta! Teimosa do jeito que é, é bem capaz de ressuscitar no sétimo dia.

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