Zenaide, cadê você? (1)

Quem seria Zenaide, a hipersensível paranaense que o cartunista francês Lauzier conheceu no Brasil? Seguindo as pistas deixadas pelo cartunista na revista Realidade de 1970, Zenaide teria então 20 anos e hoje, portanto, estaria com 57 anos de idade. Onde nasceu, onde morava, onde estudava? Zenaide, quem é você?

Recapitulando a aventura amorosa do famoso cartunista francês Lauzier com uma paranaense chamada Zenaide: uma tarde ele pegou nas mãos dela. Ela interpretou mal o gesto e pregou um tapa na cara no atrevido. ?Mas sem maus pensamentos, eu juro!? – Lauzier se desculpou, em vão. Zenaide montou num cavalo e saiu em disparada, atravessou um rio a nado e subiu numa árvore – sempre com o cartunista em seu encalço. Quando os dois caíram da árvore, um beijo então se deu: ?Na queda, minha boca entrou em contato com os beiços dela! Mas foi sem querer, eu juro!?. Deitada na relva e enxugando as lágrimas, Zenaide murmura para o cartunista que também está caído ao seu lado: ?Você vai pensar que eu sou uma moça fácil!?. Conclusão do francês: ?Acho que a moça sulista é uma hipersensível?.

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Seguindo os passos daquela moça chamada Zenaide, telefonei para o Rio de Janeiro onde mora o jornalista Toninho Vaz. Amigo e biógrafo de Paulo Leminski, o curitibano Antônio Martins Vaz, portanto, conhecia como poucos aquela geração da década de 70.

Assim, de súbito, Toninho não se recordava bem de uma moça chamada Zenaide que namorava um cartunista francês, ficou de pensar. Poucas horas depois, recebi um e-mail de ToninhoVaz: ?Sim, a Zenaide. Conheci uma garota chamada Zenaide: era de Ponta Grossa e estudava arquitetura na Federal. Durante um tempo, mas apenas por um tempo, viveu na Casa da Estudante Universitária. Mas considerava o ambiente muito permissivo e saiu para dividir um apartamento com uma colega no Alto São Francisco, perto da Panificadora América. Sofria com o mito da virgindade. Seu lugar favorito em Curitiba era o Passeio Público e fazia parte da turma dos arquitetos do Ippuc. Acho que voltou para Ponta Grossa, não tenho certeza?.

Era uma pista fundamental: se Zenaide estudava arquitetura na Federal, com certeza teria feito estágio no Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). Telefonei para o Ippuc e, de fato, constava nos registros uma estagiária chamada Zenaide, depois efetivada na Diretoria de Planejamento: Zenaide Marie Faivre.

Faziam sentido as origens pontagrossenses de Zenaide Marie Faivre: em 1847, nasceu na região de Ponta Grossa a Colônia Thereza, fundada pelo médico belga Jean Maurice Faivre.

Depois de assistir à derrocada da Colônia Thereza, com o êxodo dos imigrantes franceses, Dr. Faivre morreu de desgosto em 31 de agosto de 1858. Deve ter deixado descendentes, ou não existiria no romance do cartunista francês uma garota chamada Zenaide Marie Faivre.

Contemporâneos que conheceram Zenaide não nos faltam. Resta uma pergunta-chave: como foi que Lauzier conheceu a descendente da Rua Dr. Faivre? A resposta está na Aliança Francesa, na época dirigida por Madame Garfunkel – a venerável senhora que enviou para estudar em Paris aquela geração de arquitetos responsáveis pela revolução urbana de Curitiba. Por coincidência, a mesma geração de arquitetos que freqüentava o Bar do Pasquale, no Passeio Público: o lugar favorito de Zenaide, a musa da turma do Ippuc.

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No próximo capítulo: a garota do Colégio Sion que, mesmo hipersensível, era uma brasa, mora?

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