No bairro das Mercês, os velhos apostadores da Loteria do Queixinho estão ansiosos em saber a quantos anos Joaquim Barbosa vai condenar José Dirceu. 09-10-11-12 seria ele um burro? 05-06-07-08, a águia na cabeça? Ou o ministro Lewandowski, ao pechinchar alguns anos a menos 01-02-03-04, vai enfiar a cabeça na areia como avestruz? Somando tudo, 33-34-35-36, chegaria Zé Dirceu a ser comparado a uma cobra venenosa?

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Quem não conheceu a loteria do Queixinho deve estar se perguntando: o que o Zé Dirceu tem a ver com jogo do bicho? Tudo a ver, agora mais do que nunca. Conta-se nas Mercês que, antes de se refugiar em Cruzeiro do Oeste e conhecer Clara Becker, com quem casou na clandestinidade usando o nome falso de Carlos Henrique Gouveia de Mello, Zé Dirceu teria sido hóspede de Adolfo Becker, tio de Clara, um dos mais poderosos bicheiros de Curitiba na década de 70.

Pode ser verdade, pode não ser. Mas como já contei aqui, alguns moradores das Mercês juram que em plena ditadura um vulto em movimento volta e meia era visto na janela do sótão da mansão da família Becker. O mesmo vulto que atravessava sorrateiro o portão e disparava num automóvel.

Aquele misterioso vulto no sótão dos Becker seria mesmo Zé Dirceu? Os que sabem da lenda, aqueles velhos moradores das Mercês, pedem mais uma cerveja, passam de mão em mão a foto de Zé Dirceu e apontam com uma sombra de dúvida:

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-Se não me falha a memória, é ele mesmo! Varava madrugada, parecia um cuco na janela do sótão.

Interrogada então a respeito, Clara Becker desmontou qualquer resquício de veracidade da lenda. Negava qualquer parentesco com os Becker de Curitiba (os Becker de Cruzeiro do Oeste são gaúchos) e afirmava que só viera a Curitiba uma ou duas vezes.

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Por outro lado, numa entrevista à revista Veja, Clara Becker alimentava com algumas contradições a lenda do alto das Mercês. Ela lembrava que vinha a Curitiba com Zé Dirceu para as festas de família. E, naquelas ocasiões, notava o marido estranhamente nervoso, desconfortável.

Só depois de revelada a verdadeira identidade de Carlos Henrique Gouveia de Mello ela viera a entender o desconforto: Zé Dirceu tinha medo de ser reconhecido por antigos companheiros de Curitiba.

O suposto e antigo relacionamento de Zé Dirceu com um dos mais poderosos bicheiros de Curitiba seria apenas mais uma lenda curitibana, nada mais, nada menos. No entanto, diante de tantas lendas atribuídas ao bruxo, façam suas apostas: quantos anos para Zé Dirceu? Avestruz, águia, burro, cachorro, cobra… ou Lewandowski na cabeça?