Xerife de bordel

Para quebrar a monotonia da Fórmula Um, as imagens dos carros da Polícia Civil fazendo um “pit stop” nos bordeis de Curitiba devem ter deixado o governador Beto Richa pouco à vontade no Principado de Mônaco. Não é nenhuma novidade o entra e sai de viaturas dos bordeis. Como se sabe, as cafetinas são muito boazinhas e, quando o movimento é bom demais, têm o costume de distribuir mimos em dinheiro a certos amiguinhos graúdos da polícia. O que se estranha é o tempo do “pit stop” do Logan AYB-9611 da Divisão de Crimes contra o Patrimônio: três horas para trocar o óleo, presume-se, num prostíbulo na Avenida Visconde de Guarapuava. Segundo constatou a reportagem da Gazeta do Povo, a viatura do delegado ficou estacionada nos fundos do bordel das 17h55 às 20h50.

Já não se fazem mais bordeis como antigamente, muito menos xerifes. O último delegado com direito e obrigação de ir e vir às “casas de diversões” de Curitiba era o temido Comissário Serrato, fiscal do Juizado de Menores que tinha o dom da ubiquidade nas zonas de prostituição. Era xerife de bordel. Sempre com cara de raríssimos amigos, Serrato fazia diariamente a via-sacra por todas as boates de Curitiba. Ai se encontrasse alguém “dimenor”, homem ou mulher, fechava a casa no ato. Ele tinha uma kombi marrom e preta – chamada de saia e blusa -, com o nome da delegacia escrito em letras bem pequenas. Mesmo assim, a piazada conhecia de longe a sinistra viatura do fiscal.

De cara dura, Serrato só amolecia o coração ao ouvir o violão, sax ou percussão de um dos tantos meninos que se iniciavam na noite fugindo do xerife.   

– Doutor Serrato, preciso pagar a pensão, livros e cadernos pro Colégio Estadual. A alimentação, a vida tá difícil. Toco aqui na boate porque careço do cachê pra também ajudar a família.

Fora do expediente, o comissário Serrato só usava a viatura para levar os meninos (“dimenor”) da orquestra de volta para casa, com se fosse um anjo da guarda.