Vozes da experiência

Nesta segunda-feira de cinzas, ao entrar numa loja no centro de Curitiba, ouvi “cair a ficha” na cabeça de dois torcedores indignados: “A culpa é da imprensa”, disse um, para o outro completar: “Se a diretoria do Coritiba tivesse escutado o que o Mafuz vinha dizendo, a vergonha do inferno verde não teria acontecido. Na Arena não tem ingresso a preço de banana”.

Em princípio não entendi direito porque “a culpa é da imprensa”. Imagino que este lugar-comum (a imprensa é culpada, mesmo com provas em contrário) se refira ao fato de que nesses tempos de violência os jornalistas não venham batendo forte o suficiente. De resto, entendi perfeitamente e, para quem não entendeu, transcrevo parte da coluna de Augusto Mafuz na edição de ontem do jornal Tribuna do Paraná:

“A causa imediata não foi a violência do torcedor, que no futebol brasileiro se tornou algo natural diante da impunidade, inclusive da administração do futebol (CBF). A causa principal, no caso, foi a irresponsabilidade da diretoria do Coritiba, que ao reduzir o valor do ingresso para R$ 5, financiou aberta e ostensivamente a guerra. Despudor escancarado, ninguém da diretoria coxa se deu ao trabalho de pedir autorização para a polícia. Saberia que um bandido não paga R$ 40 para ir a um campo de futebol, mas milhares de bandidos pagam R$ 5. Um público de R$ 40 não faria o que o público de R$ 5 fez. E o Estádio Couto Pereira estaria lotado.

Sem ser especialista em segurança pública, e sem querer ser diferente, fui o único da imprensa esportiva de Curitiba que censurou a diretoria, advertindo-a de que esse ato era populista, queria esconder a incompetência, e como tal poderia ter consequências terríveis, como foram”.

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O advogado Augusto Mafuz é o mais afiado cronista do Paraná, respeitado até pelos desafetos. Como é de seu feitio, a visão do cronista quanto ao preço do ingresso tem o lado polêmico, é claro, e veio a coincidir com Mário Celso Petraglia, o ex-presidente atleticano que já levou muito “carrinho” dos adversários por não vender barato o que ao clube pode sair caro.

Velho desafeto de Mafuz nos tribunais, Petraglia também devia ter sido ouvido pela infeliz diretoria do Coritiba. Se fosse conselheiro coxa-branca, mesmo nas catacumbas, os mandamentos de Petraglia poderiam ter evitado a tragédia no “inferno verde”. Os desavisados podem até confundir a “Lei de Murphy” com a “Lei de Petraglia”. No entanto, há diferenças entre uma e outra: a “Lei de Murphy” prega que, se algo pode dar errado, com certeza vai resultar errado. A “Lei de Petraglia” é a da relatividade: pode dar certo, pode dar errado, ou pode dar em nada.

Conforme aqui já publicado faz tempo, eis alguns dos ensinamento de Petraglia:

– Tudo que começa mal, acaba bem; tudo que começa bem, acaba pior.

– Entre dois acontecimentos prováveis, sempre acontece o improvável.

– Quando um trabalho é mal feito, qualquer tentativa de melhorá-lo tem grandes possibilidades de piorar para melhor.

– Você sempre encontra o craque que não está procurando.

– Se você é capaz de distinguir entre o bom e o mau conselho, você não precisa de conselho deliberativo, nem mesmo de diretoria.

– O seu cansaço é sempre proporcional ao aborrecimento que um jornalista pode lhe causar em uma entrevista.

– Se tudo está vindo na sua direção, você está na mão certa.

– Para se conseguir um bom lateral-esquerdo, é fundamental provar que você não precisa dele.

– Partidas infelizes sempre ocorrem em série.

– Toda chuteira que voa sempre encontra um olho.

– Tudo é proibido, inclusive aquilo que é permitido.

– O prestígio de um técnico ou de um jogador varia na razão inversa da inteligibilidade de suas declarações.

– O número de exceções sempre ultrapassa o número de regras.

– Se não existissem os últimos minutos, nada neste mundo seria realizado.

Por último, Mafuz segundo Petraglia: “Cronista esportivo é aquele oráculo que faz hoje as profecias sobre o desastre de ontem”.