O clamoroso processo de eleição para o Tribunal de Contas é uma demonstração de como certos políticos tratam seus eleitores. Os tais homens públicos nos consideram clientes de uma loja de bugigangas onde, de dois em dois anos, são obrigados por lei a comprar o que estiver em oferta, sem discutir o preço e a qualidade do produto. Consumidores compulsórios, sem o direito de reclamar do atendimento.

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Fundador da Wal-Mart, maior rede varejista do mundo, Sam Walton (1918/1992) sempre lavava o próprio prato após as refeições e sua filosofia dizia que não há preço baixo na loja sem custo na empresa. Por isso, é preciso economizar cada centavo. Na Wal-Mart, também impôs uma série de rituais preservados até hoje. Antes de qualquer reunião, todos bradam cada letra da palavra Wal-Mart, dão uma rebolada ao anunciar o hífen e soltam os pulmões para gritar que o cliente é o número 1, sempre!

Numa dessas reuniões, depois de sacudir o hífen, ele fez um discurso para os funcionários em treinamento que ficou para história dos negócios. A moral da história, ou do discurso de Walton: “Os clientes podem demitir qualquer um da empresa, do alto executivo para baixo, simplesmente gastado seu dinheiro em algum outro lugar”. Ou seja, o cliente insatisfeito nunca mais volta. 

Sempre lembrada pelos publicitários, a lição de casa do fundador da Wal-Mart pode ser adaptada para o eleitor brasileiro. Como os políticos nos tratam como se fôssemos clientes de uma loja de bugigangas, otários que de dois em dois anos são obrigados a engolir as ofertas da vitrine, devíamos repassar aos eleitos a seguinte versão do discurso de Sam Walton:

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– Eu sou o homem que chega em casa, senta-se no sofá e pacientemente lê no jornal que os políticos não fazem outra coisa a não ser articular benesses, discutir alianças e tramar vinganças.

– Eu sou o homem que assiste à televisão calado, enquanto a reportagem denuncia novas e escandalosas nomeações de familiares e aliados políticos. 

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– Eu sou o homem que, quando num hospital público, parece estar pedindo um favor, ansiando por um sorriso ou esperando apenas ser notado.

– Eu sou o homem que entra na Assembleia e aguarda tranquilamente que os deputados terminem de conversar com seus apaniguados, e espera.

– Eu sou o homem que explica a desesperada e imediata necessidade de segurança no bairro, mas pacientemente não reclama enquanto os responsáveis trocam ideias entre si ou, simplesmente, abaixam a cabeça e fingem não me ver.

Você deve estar pensando que sou uma pessoa quieta, paciente, do tipo que nunca cria problemas. Engana-se. Sabe quem eu sou? Eu sou o eleitor que nunca mais volta!