Digo com a modesta experiência de quem já fundou a Banda Polaca, de quem já foi presidente da Comissão de Carnaval de Curitiba e, o que mais interessa ao que tenho a dizer, de quem já decorou a passarela do samba: Sua Majestade o Rei Momo precisa voltar para a Avenida Marechal Deodoro.

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Não sei quem teve a ideia de transferir o desfile das Escolas de Samba para o Centro Cívico. Presumo que os responsáveis são da mesma descendência daquelas múmias que no início do século passado proibiram serenatas nas ruas de Curitiba. Nos conta o advogado e historiador Henrique Paulo (Vitamina) Schmidlin que até então era comum os apaixonados transportarem até pianos para as suas serenatas. Acordes de violas esquentavam as noites de inverno e, possivelmente, foi a partir daquela lei do silêncio que a cidade passou a ser conhecida como “Curitiba, a fria”. 

Naqueles idos do Entrudo, as pessoas avessas à folia entravam numa cova rasa e se cobriam com palhas e folhas secas. Permaneciam enterradas vivas até quarta-feira de cinzas, para levar o diabo a pensar que estavam mortas e, assim, se esconder das tentações. 

O verdadeiro endereço do Rei Momo é na Avenida Marechal Deodoro. Mais precisamente na esquina com Marechal Floriano. Quando levaram Sua Majestade para o Centro Cívico, o despejaram de domicílio. Com todo respeito às boas intenções do ex-governador Bento Munhoz da Rocha Netto, mas o Centro Cívico é o grande cemitério de Curitiba. E a constatação está no ermo daquelas cercanias: durante o dia lá não reconhecemos vida inteligente e durante a noite não encontramos alma viva. 

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Quem planejou a transferência do Momo da Marechal Deodoro para o Centro Cívico estava de conluio com aqueles que querem desterrar o Momo. Decretar seu exílio numa pousada da Ilha do Mel, sem direito nem mesmo a que um cachorro vira-lata lhe acene com o rabo, numa demonstração de júbilo. 

Quando confundiram Carnaval com Semana da Pátria, a verdadeira intenção era fazer com que o Carnaval definhasse de fome e frio no descampado do Palácio Iguaçu. E dia virá que o sucesso do bloco Garibaldis e Sacis, de tanto incomodar o Cemitério Municipal, será removido do Centro Histórico para algum aterro sanitário. 

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O povo gosta de ser recebido com o que temos do bom e do melhor, de preferência na sala de visita. E a Marechal Deodoro é uma das salas de visita de Curitiba. O Centro Cívico é o quarto de despejos.