Com o campeão Londrina e o vice Maringá nas primeiras páginas dos jornais, a notória falta de uma identidade única dos paranaenses tornou a ser o foco de muita discussão. Somos três povos culturalmente distintos – tribos do Leste, do Oeste e do Norte –e não apenas torcidas dispersas entre as bandeiras do Corinthians, do São Paulo, Palmeiras, Grêmio, Internacional, Coritiba, Paraná Clube e Atlético Paranaense.

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Esse peculiar separatismo pode ser exemplificado com a Bélgica, país dividido culturalmente e linguisticamente até hoje. Em carta endereçada ao Rei Alberto I em 1912, poucos anos antes de eclodir a Primeira Guerra Mundial, um senador socialista belga, Jules Destrée, esclareceu ao soberano: “Sire, Vós reinais sobre dois povos. Na Bélgica, existem valões e flamengos, mas não há belgas!”.

Sempre que um novo governador assumisse os destinos do Paraná, semelhante lembrete deveria ser despachado ao Palácio Iguaçu: “Senhor Governador, vós governais sobre três povos. No Paraná, existem os paranaenses do Leste, do Oeste e do Norte. Mas não cantam os mesmos hinos, não torcem para os mesmos times”.

Essas diferenças não são notáveis apenas no campo de futebol. Também são observadas no campo político, justamente onde devíamos jogar em conjunto, torcer lado a lado na mesma arquibancada.

No seu “Diário de um crítico”, no dia 21 de janeiro de 1959, o escritor Temístocles Linhares, não dos mais afeitos ao futebol, observou que os nossos políticos, com raras exceções, maltratam a bola e ainda se apresentam como ídolos da torcida.

“Pobre de homens, o esquema que se delineia para as eleições é deveras angustioso. Quando estará esta rica região brasileira, em relação à política, numa era de verdadeiro espírito público, tendo à frente de seus destinos homens probos e capazes? Não bastam as experiências já feitas para os nossos políticos mudarem de rumo e se compenetrarem de seus papeis? O espírito de aventura, o personalismo, a ambição desmedida os conturbam. Em confronto com os homens do passado, os de hoje saem perdendo, não só em matéria de qualidade intelectual como de decência e honestidade. O Paraná está contaminado pelo desamor à terra. Explorá-la, sugá-la em suas riquezas, sem nada dar-lhe em troca, é o objetivo dos homens que a governam no presente. Nesse terreno não há ninguém de bom senso que não seja pessimista. É certo que ainda se diz muito por aqui: enquanto os políticos dormem, o Estado cresce e se transforma. Enquanto, porém, não for modificada a mentalidade dos homens, não haverá razão para qualquer crença tranquila e sólida em seu futuro. É preciso que haja na política paranaense um código estável de valores morais para que aos seus quadros retornem os homens bons que ainda se encontram por aqui, à margem da coisa pública”.

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