Visitantes ilustres

Os predadores da Petrobrás que passaram o Natal e o réveillon em Curitiba devem estar magoados com a cidade, pois até o momento não receberam a visita de nenhum curitibano, pelo que se sabe. Entre os tubarões que continuam detidos na Polícia Federal estão executivos de algumas das maiores empreiteiras do país, como OAS, Camargo Corrêa e Mendes Júnior. Além deles, continua detido o doleiro Alberto Youssef.

Com tantos amigos em Curitiba, desde os bons tempos do Banestado, o “brimo” Youssef bem deve saber que o curitibano, quando convida, não dá o endereço. E se convidado, marca a visita com antecedência mínima de três dias. Se for urgente, dois dias. Em contrapartida, não há porque se preocupar: nunca, jamais, ele vai tirar alguém do sofá no domingo à tarde, no meio de uma partida de futebol. Para visitar alguém, mesmo um amigo do peito, a regra é curitibaníssima: “Telefone antes!”.

É por essas e outras lições curitibanas que os adventícios devem aprender de uma vez por todas: Curitiba não visita, recebe! Exemplo disso se passou no século passado, quando a cidade recebeu com fogos e festas três dos maiores astros da época: Cauby Peixoto, Ivon Curi e Carlos Galhardo. Depois do espetáculo, os anfitriões foram convidados para jantar no bar e restaurante Cinelândia (rua Ermelino de Leão, embaixo do Edifício Tijucas), onde os cantores do rádio se sentiram como se estivessem na própria casa. Inclusive na própria cozinha.

Depois de trocar receitas à mesa, na segunda batida de limão as visitas não se fizeram de rogadas e invadiram a cozinha: Carlos Galhardo fez espetinhos de tartaruga, Ivon Curi preparou um estranhíssimo jacaré ao vinho tinto e o Cauby Peixoto, mais delicado, montou uma salada mista. Foi uma festa! No final da noite, Ivon Curi se despediu com um beijo na bochecha do garçom Ligeirinho: “A gente não imaginava ser tão bem recebido em Curitiba. Nos sentimos em casa!”. 

Outra celebridade a ser recebida em Curitiba como se estivesse em casa foi o intelectual e escritor Antônio Houaiss. Da sala de visitas (na época a Livraria Ghignone), acabou na cozinha do Cinelândia. Ao aceitar o desafio de Jamil Snege e outros amigos escritores, o autor do livro “Magia da cozinha brasileira” largou o paletó na cadeira e assumiu o fogão do Cinelândia. Grande cozinheiro, Houaiss preparou um prato de sua lavra a todos que estavam no bar. E não foram poucos a brindar o visitante.

Em Curitiba o restaurante é uma extensão da nossa casa. Agora que os marajás da Petrobrás saíram das sombras e foram elevados à condição de celebridades internacionais – com o mesmo status de Ronald Biggs, o celebérrimo assaltante inglês refugiado no Brasil -, alguém deveria solicitar ao juiz Sérgio Moro uma licença especial para convidar nossos hóspedes acidentais para almoçar em Santa Felicidade.

Seria um ato humanitário. Caso contrário, ainda vão justificar a delação premiada com o argumento de que, muito pior do que passar cem anos na cadeia, seria passar mais um réveillon em Curitiba.