Nos altos dos Campos Gerais, acima de São Luiz do Purunã, as notícias sobre o grande assalto aos cofres da Petrobras não chegam muito bem sintonizadas.

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– Tesouro escondido nos Alpes Suínos? – pergunta o caboclo, que não entendeu bem a fala do locutor da Rádio Central de Ponta Grossa. – Alpes Suíços! – corrige outro peão, mais letrado e rodado.

Com as chamas aquecendo a água para o chimarrão, os peões envoltos em capas, sentados em banquinhos, vão proseando enquanto sorvem o mate. Com o rádio ligado, um assunto puxa outro e a caboclada começa a desenterrar tesouros do fundo da imaginação.

– Não entendo por que andar tão longe para esconder os bilhões da Petrobras. Aqui perto de Castro, lá no Capão do Cemitério é que tem um lugar bem ajeitado pra enterrar o dinheiro.

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– Não é nenhum cofre de banco, não tem chave nem senha, mas só a pessoa certa é que pode desencavar a fortuna.

– Nos Campos Gerais sempre foi assim. Os tesouros têm uma guarda, uma visagem. É um escravo da guarda que despista os procuradores de panela.

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– Certa feita um tal de Avelino foi lá com uma pá e apareceu uma visagem dizendo que, se ele matasse o filho mais velho e levasse o corpo, lhe seria revelado o ponto donde o tesouro foi enterrado. O homem ficou até meio variado depois disso.

– Dizem que ele chegou a levar o filho até a beira do capão, mas o piá desconfiou e fugiu.
– Não precisa ir muito longe. Aqui mesmo na fazenda tem uma panela enterrada na antiga Fazenda da Viúva, no caminho da tropa que ligava Ponta Grossa a Curitiba.

– Diziam os antigos que a viúva era muito rica e, quando por lá passavam os tropeiros, todos queriam roubar a fortuna da dona da casa.

– Pois eu sei um pouco diferente. Muito bonita, vinham viajantes do Brasil e do mundo para casar com a viúva. Daí que o “dinheiro da viúva” entrou na boca do povo como se fosse dinheiro do governo.
– Vocês acreditam em tudo…! Essas visagens de riqueza não prestam.

– Pois eu sempre soube que não presta é compadre dormir com comadre, senão vira boitatá!
– São histórias pra criança dormir. Quando eu era piá, também diziam que não prestava andar de costas, nem brincar com terra, senão morria a mãe da gente!

– O que não presta mesmo é roubar dinheiro da viúva e esconder nos Alpes Suínos.

– Alpes Suíços, compadre! Suíços!