Vinícius e Dalton, a quase parceria

Enquanto comemoramos os 100 anos de Vinícius de Morais, muito puxam da memória para lembrar dos tantos parceiros do poeta. Bem mais fácil do que enumerar as parceiras, a lista de parceiros obrigatoriamente deve começar com Tom Jobim, seguido de Toquinho. O que quase ninguém sabe é que por pouco não entrou na lista o nosso contista Dalton Trevisan.

Na noite de inauguração do Teatro Paiol, quando exigiu uma banheirinha cor-de-rosa no hotel e uma caixa de uísque no camarim, o poeta Vinícius de Morais telefonou para a casa de Dalton Trevisan, convidando-o para o jantar na casa do advogado Eduardo Rocha Virmond. O poetinha fazia questão da presença do Vampiro de Curitiba na “bebemoração” que iria varar a madrugada, para poucos e bons convidados.

Assim que chegou na residência de Virmond, Vinícius levou um susto ao ver Gebran Sabbag ao piano:

– Ué, você não estava até agora no teatro cuidando da iluminação, do som e dos microfones?

Mal sabia ele que Gebran – irmão do ex-prefeito de Curitiba Omar Sabbag – também era o homem dos sete instrumentos da Prefeitura. Foi uma paixão à primeira vista. Entre um uísque e outro num banquinho ao anexo piano, de vez quando Vinícius de Moraes chamava o dono da casa:

– O Dalton Trevisan já veio?

No quinto uísque, ou lá pelo meio da garrafa, Vinícius se impacientou:

– Telefona para casa do Dalton! Ele não pode deixar de vir, precisamos trocar umas palavras.

– Sinto muito, Vinícius: se bem conheço o Dalton, ele não viria nem mesmo se aqui estivesse o Carlos Drummond de Andrade cantando tango.

O garçom passou com mais algumas garrafas de uísque, o piano de Gebran Sabbag já tinha se enturmado com o violão do Toquinho e a voz de Marília Medalha, quando o anfitrião veio com a notícia óbvia:

– O Dalton não vem! Está no telefone, o que eu digo?

– Diz pra ele ir pra PQP!

É de Vinícius e Toquinho “Na tonga da mironga do kabuletê”. Pela tradução do PQP na língua nagô, podia ter sido em parceria com Dalton Trevisan.