Jaguara, o Animador de Velórios dos Campos Gerais, foi fazer o guardamento da mulher de um fazendeiro de Ponta Grossa que se dizia o maior colecionador de vinhos do Paraná. Com as carpideiras presentes e dadas por abertas as libações etílicas, o viúvo nascido em Morretes, terra da cachaça, abancou-se ao lado do Jaguara e perguntou:
– Que tal? É da safra do Pelé. Borgonha 1940.
– Esse vinho não está com gosto estranho?
– Lembra frutas secas adamascadas, com leve toque de trufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas.
– E o amigo cheirou isso tudo aí no copo?
– Claro! Sou enólogo com diploma. E o senhor?
– Eu sou o Jaguara, o maior entendido de cachaça dos Campos Gerais. Com todo o respeito, mas esse vinho está com o cheiro da minha égua Gertrudes depois da chuva.
– Valei-me São Mouton Rothschild!
– Me desculpe, mas eu vi o senhor sacudindo o copo e enfiando o narigão lá dentro. Está gripado?
– São técnicas internacionais de degustação, entende? Caso queira, posso ser seu mestre na arte enológica. Ensinar como segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho e, então…
– Muito obrigado!
– O amigo não entendeu. Só gostaria de introduzir…
– Desafasta!
– Calma! O amigo precisa conhecer nosso grupo de degustação aqui em Ponta Grossa. Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens…
– Huumm… Eu sabia que esses gauleses que aportaram em Paranaguá não eram confiáveis.
– Confiável é um “beaujolais” da safra! Como o senhor!
– Não “beijo lé, nem beijo lá!” Sou o Jaguara dos Campos Gerais!
– Então que tal um vinho novo mais encorpado?
– Isso está cheirando a vinagre de Santa Felicidade!
– Ou um “rosé” bem fresco?
– Seu jacu rabudo, meu negócio é outro!
– Sendo assim, que tal um aveludado e escorregadio?
– Desculpe, mas eu vou “erguer o charque”!
– Já sei! O camarada prefere um duro e macio!
Jaguara, o Animador de Velórios dos Campos Gerais, passou o domingo lendo o livro “As vinhas da ira”, de John Steinbeck.