Vida de artista

Amanhã, lá se vão 18 anos sem Paulo Leminski. Ele se foi no dia 7 de junho de 1989. Oito meses antes, em 15 de novembro de 1988, Leminski foi entrevistado por mim e pela jornalista Adélia Maria Lopes.

?Viver é uma coisa esquisita?, era a frase-título da conversa com Paulo Leminski, recém-chegado de uma temporada em São Paulo. Capa do caderno Almanaque, o poeta posou – ou pousou? – no alto da torre da Telepar, com a cidade aos seus pés -e m todos os sentidos -, como se estivesse se despedindo da paisagem.

?Eu nunca saí de Curitiba? -dizia o polaco do Pilarzinho. ?Eu incorporei São Paulo ao meu quadro de possibilidades de trabalho. Sob o ponto de vista afetivo, deixei muito claro que nunca saí de Curitiba. Pinheiro não se transplanta.?

Leminski gostava de dizer que ?a vida espiritual é muito material? e, como se fosse hoje, ele se queixava da vida de artista.

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Acho que Curitiba não está fora do Brasil. As coisas estão muito ruins para todo o mundo. A área cultural está sendo particularmente afetada por isso, porque o conjunto cultural é muito frágil. Aquela coisa de suporte de mercadoria é trágica no caso da cultura. De repente, tudo está muito caro, fazer um filme, expor quadros. O papel, o livro, as gráficas estão muito caras e isso acaba afetando a própria produção, à medida que afeta as pessoas.

Tenho notado – e falo por mim mesmo – que de repente todos nós nos tornamos mais imediatistas. Não há condições materiais pra gente fazer projetos a médio e a longo prazos. É mais ou menos a situação da empresa brasileira ou até da própria administração pública do Brasil. A gente se torna um imediatista porque tem que sobreviver. E os artistas são particularmente vulneráveis e frágeis em relação a isso. Intelectuais, escritores, realmente quem vive de signos, os que vivem numa área simbólica. A gente lida com bens muito frágeis: palavras, idéias, propostas.

A gente não lida com pão, farinha, petróleo. A gente lida com coisa que, se faltar, ninguém vai morrer de fome. Então a gente já vive meio que na corda bamba por definição. O tempo que alguém pode levar fazendo um poema, se expressando – três, quatro, cinco madrugadas -, é premiado pela realidade de uma conta para pagar no fim do mês, que vem se aproximando perigosamente, cada vez mais. É muito mais conveniente, naquela hora, você fazer um free-lance que lhe pague bem, porque você vai precisar desse dinheiro para sua sobrevivência.

Então aquelas coisas que são realmente vitais e fundamentais para a cultura, que são as coisas in-úteis (que não servem para nada e por isso são importantes) vão ficando para o segundo plano. Porque a gente coloca em primeiro plano sempre o que é mais imediato. ?Não, vou bolar um romance agora. Vou pegar minha experiência vital e transformar num romance.? Ora, vou precisar de um tempo, pra pensar!

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?Viver é uma coisa esquisita.? Viver em Curitiba sem Paulo Leminski é uma coisa ainda mais esquisita.