Viajantes na maionese

Não se sabe de onde veio a proposta de agregar os restos da Secretaria de Turismo à sempre moribunda Secretaria de Cultura do Paraná, conforme a recente reforma administrativa do Estado. Ao juntar lazer com saber, parece que a ideia surgiu com o exemplo da monstruosa participação do Brasil na Feira do Livro de Frankfurt, onde o Brasil, país homenageado, está sendo representado por 70 escritores, fora a milionária comitiva oficial que normalmente acompanha o regabofe de tamanha “envergadura” – para usar uma palavra mais apropriada às letras oficiais.

Apesar dos protestos de artistas, produtores culturais e membros do Conselho Estadual de Cultura, o transplante frankensteiniano é definitivo: ao invés de agregar a já minguada Secretaria de Turismo com a Secretaria da Indústria, do Comércio e Assuntos do Mercosul – onde a cada vez mais crescente indústria sem chaminés estaria bem abrigada -, os sempre desamparados órgão culturais vão poder agora efetivar o conceito que os escalões superiores sempre tiveram dos artistas: uma gente folgada e improdutiva, parasitas que adoram viajar. Principalmente na maionese.

Para os organizadores do movimento de protesto contra a nova Secretaria de Turismo e Cultura, a fusão é um retrocesso: “Temos secretarias que, caso fossem extintas, não trariam nenhum prejuízo à população do Estado como, por exemplo, a Secretaria do Cerimonial e Relações Internacionais, apenas um exemplo entre muitos. Lembramos ainda, indignados, que tal medida foi, ironicamente, anunciada no Dia Mundial do Turismo”. 

Como se sabe, a soberba não permite que se volte atrás. Agora convém aos artistas, produtores culturais e funcionários relaxar e gozar, com ensina a ministra Marta Suplicy na Feira do Livro de Frankfurt. Com a assessoria dos especialistas em Turismo, muda-se o nome da nova pasta para Secretaria dos Viajantes na Maionese e, na próxima Feira Internacional do Livro de Foz do Iguaçu, que também nos convidem para uma temporada de mordomias e compras no Paraguai.