Viagens, presságios e pecados

Antes de fazer a revisão do carro para o Carnaval, faça como os supersticiosos romanos. Na Roma antiga, antes de mandar fazer uma boa revisão nos cavalos e calibrar as rodas das bigas, os romanos consultavam os deuses para depois curtir sossegados a festa pagã. Se acaso surgir um mau presságio, não brinque com o destino.

A distância entre Roma e a Baía de Napoli é de 189 quilômetros em linha reta. Entre Curitiba e a Baía de Paranaguá são apenas 78 quilômetros. Mas o destino é o mesmo, considerando-se que Paranaguá é para Curitiba o que Napoli era para Roma. O Atlântico seria o Mediterrâneo, a Serra do Mar, as colinas da Via Ápia. 

Para as festas pagãs – assim como em Curitiba -, o calor mediterrâneo esvaziava a capital imperial e os adoradores de Netuno partiam “al mare” num verão parecido como o de agora, sufocante. O centro de Roma restava sob o império das moscas do Monte Capitolino e a plebe ficava a ver navios.

Os romanos passavam a vida aprisionados numa teia de superstições, à mercê dos deuses caprichosos. O calendário Juliano era um aterrador campo minado de dias azarados. Assim, no livro “Férias pagãs”, de Tony Perrottet, temos algumas recomendações básicas que até o imperador Nero, com a cara do Rei Momo, levava ao pé da letra:

“Não dê início a uma viagem numa terça-feira; terças-feiras dão azar. Também nos dias 5 de outubro e 24 de agosto, é melhor ficar em casa. Não vá a lugar algum no final de um mês, são dias malignos para fazer uma viagem. Sonhaste com corujas, ursos ou touros? Cancele todos os planos de viagem, o desastre é certo! Nunca espirre quando entrar numa embarcação a vela. Nada de dançar enquanto estiver navegando! E definitivamente, definitivamente não corte as unhas quando estiver em mar aberto. A menos que esteja enfrentando mau tempo. Nesse caso, por favor, apare tanto o cabelo como as unhas; coloque as aparas num saquinho, e atire-as ao mar como oferendas a Netuno”.

Como resultado de tantas armadilhas no calendário Juliano, os antigos romanos viviam em agonia antes de pegar uma praia. É bem verdade que naquela época viajar era bem mais seguro que hoje e, graças aos deuses, não havia pedágio. Essa praga só chegou a Roma muito depois, com as invasões bárbaras.