Não são muitos os que defendem o vestibular, nos atuais moldes, para ingressar na faculdade e na vida, cruel vida. Dos defensores ferrenhos, conheço apenas dois: este signatário e o advogado e escritor Nireu Teixeira.

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O vestibular é imprescindível, reconhecemos, porém precisa ser radicalmente transformado numa prova de iniciação para a vida. Química, física, matemática, biologia, literatura, todas as disciplinas tradicionais são dispensáveis para comprovar capacidade e preparo para atravessar o período acadêmico. Física quântica, vamos exemplificar, está ao alcance de qualquer um. Basta acomodar os glúteos numa cadeira e ter acesso a uma boa biblioteca.

Queremos ver, desafia Nireu, é o candidato a doutor cantar um samba de breque fazendo ritmo com uma caixinha de fósforo. E nisso Nireu é doutor, com pós-graduação no batuque.

Na mesma área, outro quesito fundamental numa prova de vestibular seria cantar Chão de estrelas, sem errar um único verso da canção de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa: Minha vida / Era um palco iluminado / E eu vivia vestido de doirado / Palhaço das perdidas ilusões / Cheio dos guizos falsos da alegria / Eu vivia cantando a minha fantasia / Entre as palmas febris dos corações.

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Nota dez para quem chegar na última estrofe, a mais bela de todas: Tu pisavas nos astros distraída / A mostrar que a aventura desta vida / É a cabrocha, o luar e o violão…

?Truco, veio!? – Quem não souber jogar truco, convenhamos, não tem condições mínimas de freqüentar uma faculdade, pois é só o que se faz num diretório acadêmico, entre uma greve e outra. Literatura para aprender a disciplina é que não vai faltar: o escritor Ernani Buchmann acaba de enviar ao prelo a segunda edição do seu manual de truco, sem mestre.

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Brasileiro é louco por carros e futebol, isso todo mundo sabe. O que muitos vestibas não sabem são os fundamentos dessas duas paixões: trocar o pneu do carro numa noite de chuva e fazer uma embaixadinha com a bola. No campo de testes, não precisa saber o drible da foca, que isso é para o doutorado, bastam dez toques na bola sem deixar cair a gorduchinha.

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Fritar um ovo sem furar a gema é fundamental no vestibular da vida. Ao contrário do que um jovem de 16 anos imagina, esta questão requer praticamente uma apostila de bom volume. É preciso decorar os ingredientes e requisitos para um básico ovo frito: fogão, frigideira, escumadeira, espátula, óleo de cozinha, um ovo de galinha (caipira, de preferência) e sal. Certifique-se de que a frigideira esteja bem limpa e seca. Acenda o fogão e ponha a frigideira para aquecer. Ponha no fundo da frigideira um filete de óleo, suficiente para cobrir suavemente a área útil do fundo da panela. Quando a frigideira estiver bem aquecida, abra o ovo e despeje o seu conteúdo sobre o óleo. Polvilhe o sal em doses pequenas sobre o ovo. Quando o ovo tiver a aparência desejada, em termos de cor e textura da gema (aquela parte amarela, no meio do ovo; a outra parte se chama clara), desligue o fogão e, com o auxílio da espátula, retire o ovo da frigideira.

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Entre outras tantas ciências, saber lavar uma cueca também é de suma importância num vestibular. Só não vamos tratar desta questão aqui, pois roupa suja é uma lição para se lavar em casa.