Atendendo ao generoso telefonema de Tataio Bettega, eis o terceiro capítulo de “Cidades e as Mulheres”, fantasia criada por Jaime Lerner que, em suas palestras, imagina Curitiba sendo a madame de cinta-liga na coxa, com belo naco de carne à mostra. São Paulo, uma mulher que exagerou no botox. Rio de barriguinha de fora.

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De modo geral, podemos estender a todas as cidades do Paraná esta quadrilha popular de Moacyr Flores (do livro “Histórias & Bruacas”, de Carlos Solera):  Quem tiver filhas solteiras / Não fale das malfadadas / Que as filhas da desgraça / Também nasceram honradas Minha mãe casa-me cedo / Enquanto sou rapariga / O milho rachado tarde / Não dá pendão, nem espiga A mulher e a galinha / Não se deixa passear / A galinha o bicho come / A mulher dá o que falar

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Tomazina é bancária. E outra coisa não seria, esta moça bonita que exibe com orgulho o retrato de Avelino Vieira na parede da sala. “Ah… esse Bamerindus!” – suspira Tomazina com saudades.

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Floraí nasceu na Fazenda Santa Flor. Na alvorada do norte do Paraná, levantava muito cedo, tirava água do poço, dava de beber e tratava dos animais domésticos, tirava leite da vaca, cultivava a horta, tecia e costurava a roupa, preparava as refeições e levava até o roçado e terminava o dia ajudando no cultivo das lavouras. À noite, após um dia de muito trabalho, ainda preparava as tarefas do dia seguinte.

Jussara tem o nome em homenagem a Juçara Marques de Amorim, primeira goiana eleita Miss Brasil. Quando dizem que essa moça bonita do norte do Paraná é goiana, ela responde: tenho uma irmã gêmea em Goiás, mas sou paranaense com dois esses, apesar da grafia correta ser Juçara, com cedilha no “c” de origem tupi, designando palmeira: yeï’sara, jiçara, jussara e finalmente juçara.

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Mirasselva nasceu na floresta. Mira a selva! – exclamou o desbravador. E o nome passou do pai para a filha.

Filha de Maria da Luz é Mariluz. Sereia de um mar verde.

Marilena é nome carinhoso. No cartório é Maria Helena Volpato, esposa de José Volpato, diretor da Empresa Colonizadora Marilena.

Astorga é filha do russo Wladimir Babkov, que girou um globo terrestre e parou com o dedo indicador sobre o nome Astorga, na Espanha.!

Guaraci, moça de pele morena, até no nome abriga o Sol (do tupi kwara’si). É irmã de Douradina.

Tamarana é poeta.

Inajá é mais uma brasileira desmerecida, porque mais contribui do que recebe. Quando visitar Roraima pela primeira vez, o presidente Lula deve anunciar a construção de uma usina da Petrobras em Mucujaí para produção de biodiesel a partir de inajá, uma palmeira oleaginosa nativa da Amazônia. Estudos da Embrapa mostram que a palmeira é capaz de gerar 3.690 litros de diesel por hectare ao ano, superando outras fontes tradicionais do biodiesel. Inajá ficou enciumada.

Loanda é médica. Devido a sua vocação para servir vizinhos enfermos, trabalha em três hospitais e ainda leciona nas principais instituições de ensino superior do extremo noroeste.

Mercedes, muito ligada à família, ganhou esse nome depois que o pai atolou o caminhão Fenemê 51 em Toledo. Só chegou em casa a tempo de assistir o nascimento da filha num Mercedes-Benz novinho em folha, com placa de Cornélio Procópio. Do latim, Mercedes significa “dar graças”!

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Mulher é Campo Largo. Excelente amazona, cavalgava elegantemente em selins de banda, trajando vistosos roupões e chapéus de aba larga com enfeites fitas e flores. Dizem os “estoriadores” que, ao ficar noiva, completou seu enxoval com um belo cavalo marchador. Como reza a tradição, casou com um mancebo de Ponta Grossa. Cerimônia serra abaixo, festa serra acima, ela e o noivo subiram o Purunã: o padre de Missal vinha na frente, na retaguarda um bando de alegres e barulhentos cavaleiros, os guapos de Pinhalão.