Velórios de conversa mole

Para distribuir entre admiradores e ouvintes, o Animador de Velórios dos Campos Gerais tirou dezenas de “fotocópias” da crônica de Marleth Silva, na Gazeta do Povo de sábado passado. Com o significativo título de “Velórios”, o Jaguara leu o texto da jornalista em todos os seus compromissos no fim de semana: três velórios em Ponta Grossa, um em Castro e dois no interior de Tibagi. 

– Essa menina Marleth é uma cronista à flor da pele!- garante o Animador, apontando para o primeiro parágrafo da crônica publicada na página três da Gazeta:

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“Até tempos atrás, os velórios eram eventos sociais memoráveis. Passava-se a noite em vigília. Cabia aos familiares mais próximos manter a compostura e o ar de respeitosa tristeza. Mas aos amigos e conhecidos liberava-se um pouco da irreverência provocada pelo café forte e, às vezes, pelo álcool. A morte, essa fatalidade, iria acontecer mais cedo ou mais tarde. Como é hoje, naturalmente, mas, com tantos recursos para prolongar a vida, morrer se tornou um fracasso. Não apenas do morto, mas da sociedade, da espécie humana. No velório chora-se o desaparecimento de alguém e a derrota de todos nós. Talvez por isso os velórios estão cada vez mais curtos e não raro são interrompidos durante a noite”.

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“Marleth escreveu o que venho dizendo: já não se fazem mais velórios como antigamente!” – afirma o Jaguara, assegurando que os velórios de modo geral estão cada vez mais curtos em função “desse sistema desalmado da cremação”. Nos bons e velhos velórios, os defuntos sabiam perfeitamente para onde seriam mandados, apesar dos pesares – ele ressalta: “O defunto conhecia os passos do funeral: do IML para o caixão, do caixão para a choradeira da sala de visitas e dos braços da viúva para a sepultura. Hoje o falecido entra por uma porta em carne e osso e sai por outra num pacotinho de cinzas! Pode uma coisa dessas?”.

Recomendado por Marleth Silva, o Jaguara até já comprou o livro “Velórios”, de Rodrigo Melo Franco de Andrade, seleta de contos onde o escritor Manuel Bandeira explica o que seria o estilo “conversa mole” de velar um morto: “Lembro-me que no velório de meu pai (…) um sujeito – naturalmente com a caridosa intenção de aliviar o meu estado de espírito – tentou envolver-me na sua conversa mole”.