Velório da praça

É com extremo pesar que comunicamos o falecimento da Pracinha do Batel. O velório será realizado na própria praça, em data a ser determinada, com a presença de todos os órfãos daquele tradicional ponto de encontro do Batel.

A convocação para o velório da Pracinha do Batel vem assinada pelo enlutado cabo Grama, ex-pracinha, valoroso comandante do exército de salvação da Praça Miguel Couto, a pranteada Pracinha do Batel.

Inconformado com a morte anunciada numa audiência pública realizada na última terça-feira, entre a municipalidade e os moradores do Batel, o ex-pracinha cabo Grama convoca ?um minuto de silêncio e cliques, em data a determinar? – antes que as máquinas tomem conta do logradouro -, ?com a presença de fotógrafos, cinegrafistas, desenhistas, pintores, poetas, engolidores de fogo, malabaristas et populi in generalli, para o velório da praça, com velas acesas, sem chorumelas, com ou sem chuva; tudo para registrar a absurda sandice à memória (visual) futura, para o conhecimento dos filhos pequenos, netos e bisnetos das autoridades políticas, urbanas e suburbanas de Curitiba. O evento pode ter mais de um minuto (claro) e durar partes do dia e da noite – o ideal mesmo seria uma vigília ?full-time? para impedir a inclassificável medida?.

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Ontem à noite, em assembléia geral extraordinária do Exército de Salvação da Pracinha do Batel, realizada no original Restaurante Beto Batata, sob a presidência do ex-pracinha cabo Grama, foram promulgadas as seguintes cláusulas para o velório, sem disposições em contrário:

– A cerimônia fúnebre será realizada num sábado, em data a ser estabelecida nos próximos dias, com o consenso geral.

– O órgão oficial para a organização e divulgação do Velório da Praça fica sendo o blog Solda Cáustico (http://www.cartunistasolda.blogspot.com), e todas as adesões e colaborações para o evento devem ser remetidas para este endereço. Isto sem excluir outros bravos internautas que podem, e devem, se juntar à corrente com seus respectivos blogs.

– Ficam, desde já, convocados os publicitários para desenvolverem as mais variadas peças possíveis para a divulgação e registro da cerimônia de adeus.

– Ficam também convocados os estudantes de Arquitetura para realizarem projetos urbanísticos alternativos ao descalabro ora engendrado, projetos estes que serão apresentados durante o velório, como forma de mostrar que ainda existe vida inteligente além dos muros do IPPUC.

– Aos cartunistas cabe botar no papel, e na internet, o que o povo vê e as autoridades não vêem.

– Fotógrafos, pintores, desenhistas e artistas multimídia: precisamos eternizar a paisagem morta. Escultores, mãos à obra da máscara mortuária.

– Atores e atrizes, venham recitar Mário Quintana, Vinícius de Moraes, Federico Garcia Lorca, Pablo Neruda, Helena Kolody, paulo Leminski, Jamil Snege, Wilson Bueno, Thadeu Wojciechowski e Castro Alves; porque ?A praça é do povo como o céu é do condor?.

– Poetas, seresteiros, namorados, correi. É chegada a hora de escrever e cantar talvez as derradeiras noites de luar na Pracinha do Batel.