Um oásis no deserto

Dos pequenos grandes prazeres, tenho que o primeiro da lista é o pequeno grande prazer de fazer listas. Lista de amigos, lista de convidados, lista de presentes, lista de viagem, lista de supermercado, lista de livros para ler nas férias, lista de cidades inesquecíveis, lista de restaurantes e – a melhor das listas – a lista de pequenos grandes prazeres.

O pequeno de subir no pé, comer a fruta do pé e dar no pé. Comer verdura da horta. O peixe na ponta da linha e um banho de rio. Depois do aguaceiro, o cheiro da terra. O cheiro do lençol limpo e da roupa bem passada, a gola engomada, o primeiro dia de aula, a primeira lancheira, o perfume da merenda. A caixa grande de lápis de cor. O bolo de aniversário, o chocolate da páscoa, a véspera da noite de Natal. O sino da igreja. A primeira bicicleta, a primeira chuteira, a primeira bola. O fim da tarefa.

Vestir um casaco velho e achar um dinheiro graúdo no bolso. O primeiro contracheque, o primeiro dia das férias. Uma mala arrumada, o primeiro passaporte. O barulho do mar. O caldo de cana na serra. Um veleiro lá longe no mar, a gaivota rondando, uma ilha deserta. O cheiro de carro novo. O primeiro chope do verão. O pequeno grande prazer de chegar. Tirar o sapato, o pequeno grande prazer da sandália. Deitar na rede macia e sentir o aroma do café passado. O pequeno grande prazer do vento soprando da janela.

A velha casa pintada de nova, o sabiá no telhado. Chegar em casa. Um chuveiro quentinho no inverno, uma chuveirada de verão. O copo de água gelada.

Pequeno grande prazer também é ler a crônica do Augusto Mafuz:

“Chego em casa recebido com um sorriso, que parecia anunciar uma semana de conforto, de paz e de esperança. Lembrei de um verso de Fernando Pessoa, que se me lembro é mais ou menos assim: Quando viestes da festa/Vinhas cansada e contente/ A minha pergunta é esta:/ Foi da festa ou foi da gente.”

Para a torcida atleticana, Mafuz é um oásis na travessia do deserto.