Um homem bom, um homem generoso, um mestre

Faleceu sábado passado o jornalista Jorge Narozniak. Para honrar as letras de família, a jornalista Malu Mazza se despediu de seu colega da RPC-TV com uma crônica que Luiz Geraldo Mazza também assinaria:

“Eu entrava na redação e o Jorge já vinha: `Malu, quando nós vamos passar uma semana no mato?. Aí vinha uma sugestão de viagem para Guaraqueçaba, à caça dos guarás fujões. Ou para Currais, ver as revoadas de tesoureiros de papo inchado atrás de namoradas. Ou ainda pegar o Caminho do Itupava, de ponta a ponta. E não é que o Jorge Narozniak ensinou essa curitiboca branquela criada no centro a gostar de ir para o meio do mato, atrás de micos leões e papagaios da cara-roxa? Além disso, aprendi com o Jorge, ainda foquinha e apressada, que às vezes é preciso sentar… e esperar. Sempre atento, pois o golfinho pode dar aquele salto que esperamos a qualquer instante. “Bicho não marca entrevista”, dizia ele. Serviu de metáfora, inclusive, para esmagar em outras instâncias da vida, qualquer marca de egocentrismo juvenil. É o repórter que precisa estar alerta, sempre. O Bigode ainda me fez saber que Villa-Lobos morou em Paranaguá e trabalhou numa fábrica de fósforos. Que Maria Bueno era mulata e não branca de olhos azuis, como a imagem do cemitério. O Jorge foi generoso em dividir descobertas e fazer com que a gente – repórteres, cinegrafistas, auxiliares, editores – pudéssemos fazer parte disso. Tá aí uma boa missão para a vida. Disseminar, não só conhecimento, mas também paixões. Assim, de alguma forma, se permanece”.

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Tenho por mim que, assim como temos cotas para minorias nas universidades, também precisamos de cotas para jornalistas acima de 60 anos nos meios de comunicação. Dotados de larga experiência e memória, são eles as minorias que podem ensinar aos jovens o caminho das pedras. Contar quem é quem, revelar os antecedentes de certos fatos que muitas vezes passam em brancas nuvens. Nascido na Ucrânia, Jorge Narozniak fazia parte dessa cota de jornalistas bem acima da média, fiel depositário da memória da imprensa e do Paraná.