Um comunista na Arena

Curitiba, em termos de turismo, mantém duas coisas para inglês ver: piscina e lareira. Agora ganhou mais uma atração virtual: as obras na Arena da Baixada. Segundo comentam no Alto da Glória, Mário Celso Petraglia teria contratado uma equipe de figurantes para encenar “obras em curso dentro do cronograma previsto”. Conforme a importância do visitante, até alguns tratores são acionados para fazer de conta.

Ontem por exemplo (ainda segundo os linguarudos coxas), figurantes e máquinas fizeram hora extra para impressionar o comunista Aldo Rebelo, o ministro do Esporte que visitou a Arena da Baixada acompanhado pelo prefeito Luciano Ducci, o governador Beto Richa e o presidente do Atlético, Mario Celso Petraglia. Segundo o comissário do PCdoB, “os pontos pendentes da Arena são apenas detalhes que serão superados com facilidade. Estamos tranquilos quanto a Curitiba. A Copa já é uma realidade na cidade. As obras aqui estão em curso e dentro do cronograma previsto”.

Não sabe o ministro, na Copa de 1950 Curitiba não teve problema com estádio, muito menos com aviões e turistas. Como se sabe, a Arena da Vila Capanema recebeu duas partidas da segunda divisão daquela Copa: Espanha 3 x 1 EUA (15 mil pessoas); Suécia 2 x 2 Paraguai (10 mil pessoas). E quanto às obras de infraestrutura, o aeroporto de São José dos Pinhais (a terra dos aviões) deu para o gasto e, de 1949 a 1951, o então prefeito Lineu Ferreira do Amaral – além dos recursos naturais -, pouco investiu para trazer a Copa de 1950 para Curitiba.

No quesito turístico, ninguém saiu reclamando da hospitalidade curitibana, principalmente os inspetores da Fifa. Quando apareceram na cidade com o caderno (mimeografado) de encargos, foram recebidos pelos assessores da prefeitura na boate Boneca do Iguaçu, dormiram na Casa da Uda, no Uberaba e do caminho do aeroporto voltaram para o Rio de Janeiro encantados com a infraestrutura das nossas argentinas.

Como subsede do Mundial de 1950, Curitiba ofereceu aos visitantes uma acolhida cordial e barata. Em termos de investimentos, o prefeito Lineu do Amaral só precisou passar a patrola no caminho do aeroporto e fazer uma boa limpeza no chafariz da Praça Osório. De resto, Curitiba recepcionou o grande evento esportivo com o que tinha de bom e do melhor: a Suécia só empatou com o Paraguai porque o time virou a noite anterior na Boate Marrocos, do Paulo Wendt. Os paraguaios, por sua vez, ficaram concentrados na Moulin Rouge e, graças ao uísque que trouxeram de casa, acordaram daquele jeito. Os americanos levaram uma lavada dos espanhóis, mas também saíram daqui bem satisfeitos, como se estivessem em Las Vegas: como o Cassino Ahú havia sido fechado pelo general Dutra, foram jogar sinuca na Rua XV e voltaram mais ricos do que chegaram.

Sorte no jogo e azar no amor. Convidados para um baile organizado pelo Clube Espanhol, “los calientes guapos do Generalíssimo Franco” ficaram atarantados pelas mocinhas da cidade. Só não entraram com bola e tudo porque receberam marcação homem a homem da tradicional família curitibana.