Último retrato

O jornal impresso morre no dia seguinte. O que é fascinante, pois todo o dia ele tem uma vida nova. Já a redação de um jornal não morre do dia pra noite. Morre aos poucos, alguns anos antes de fechar as portas.

Sem choro nem vela, apenas com um retrato para a memória, no fim da tarde dessa sexta-feira vamos nos despedir da velha e brava redação da Vista Alegre das Mercês, de onde saía o falecido jornal O Estado do Paraná e, até ontem, esta Tribuna do Paraná – agora instalada junto à Gazeta do Povo, na Praça Carlos Gomes.

A redação da Vista Alegre das Mercês era um observatório da capital do Paraná. Um posto avançado de onde podíamos não só fotografar as tempestades que se formavam acima da Serra do Mar, como também registrar os humores e rumores do Centro Cívico. Daquela sentinela víamos antes que o Corpo de Bombeiros quase todas as tragédias que no dia seguinte seriam manchetes. Inclusive o mais cinematográfico dos sinistros, a explosão de caminhão de dinamite no nas bandas do Ahú em 1976, explosão que vimos e ouvimos de camarote.

Foi um privilégio trabalhar na Vista Alegre das Mercês. Além da visão da cidade, naquela redação convivemos e aprendemos com profissionais que até hoje nos dão de orgulho de exercer o jornalismo. A maioria não vai atender ao encontro marcado para hoje. Muitos cruzaram a porta da eternidade, para outros a modéstia não permite, uns tantos saíram por esse mundo afora. Mas todos, presentes ou não, vão ficar para sempre num último retrato do afeto. A redação da Vista Alegre das Mercês será apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!