Dada a generalizada falta de curiosidade pela leitura de algo mais do que 140 caracteres, alguém deveria sair na frente e escrever a história do Paraná pelo twitter. Começando por Auguste de Saint-Hilaire, podemos imaginar como seria agradável a missão do naturalista francês relatando o dia a dia de sua viagem pela Comarca de Curitiba, em 1820. Confortavelmente, à maneira de um jovem do século XXI, o viajante iria caprichar na caligrafia para se comunicar com a posteridade:
– Para conhecer toda a beleza das florestas tropicais é necessário penetrar nesses retiros tão antigos como o mundo.
– Nada aqui lembra a cansativa monotonia de nossas florestas de carvalhos. Cada árvore tem, por assim dizer, um porte que lhe é próprio.
– Campos Gerais, uma das mais belas regiões que já percorri desde que cheguei à América. Gostei do verde claro e viçoso dos capinzais.
– Ainda hoje os nativos comem as sementes da Araucária e as empregam com sucesso para engordar suínos.
– É de admirar que os habitantes dos Campos Gerais, apesar da profunda ignorância, falam português mais correto do que os de São Paulo.
– As mulheres são muito bonitas; têm a pele rosada e uma delicadeza de traços que eu não tinha encontrado em nenhuma brasileira.
– É bem verdade que não se encontra nelas a vivacidade que caracteriza as francesas; mas menos tímidas do que as mineiras.
– É raro que as damas se escondam à aproximação dos homens; elas recebem os hóspedes com cortesia simples e graciosa.
– Em Curitiba são inúmeras as superstições praticadas na região. De almas-do-outro-mundo, de duendes, de lobisomens, eles acreditam.
– Curitiba mostra-se tão deserta no meio da semana quanto a maioria das cidades do interior do Brasil.
– Como em outros lugares, quase todos os seus habitantes são agricultores e só vêm à cidade nos domingos e dias santos.
– Fazia muito tempo que eu não sentia tanto frio quanto em Curitiba.
– Em nenhuma outra parte do Brasil encontrei tantos homens genuinamente brancos quanto no distrito de Curitiba.
– De modo geral são altos e bem construídos. Ele não mostram aquela bazófia muito comum no Rio de Janeiro.
– Não é o calor excessivo que causa preguiça nos homens; se tornam indolentes porque têm poucas necessidades.
– Eles não conhecem o luxo. Além do mais, a fecundidade da terra, bem como a doçura do clima, exige deles pouco esforço.
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E o Cerco da Lapa? Pelo twitter, o que o General Carneiro nos contaria da Revolução Federalista em 140 caracteres? A professora Cassiana Lacerda, descendente dos guerreiros lapianos, poderia responder essa curiosidade.