Tutti ladri e buona gente

O avião que nos trouxe das férias chegou terça-feira passada, mas me parece que não aterrissei direito no Brasil. Ainda estou com a cabeça num restaurante em Florença, onde o garçom tratou de me servir o prato do dia na Europa:

– Nós aqui na Itália estamos fazendo festa com o que está acontecendo na Suíça. Pela primeira vez não temos um dos nossos dirigentes esportivos entre os corruptos da FIFA. Em compensação, os de vocês aprenderam direitinhos com os nossos. 

De volta à terra firme, é preciso reconhecer que o garçom italiano tem lá suas razões. Principalmente históricas, pois como se sabe a corrupção, por ser eterna, deve ter alcançado os píncaros do poder na velha Roma.

A má reputação da cidade eterna vem da época de Machiavel, amplamente difundida por Bocaccio, na história edificante de um judeu convertido ao cristianismo pelo espetáculo da corrupção romana.

Do papa aos cardeais, dos prelados aos cortesãos, Abraão descobriu que, do maior ao menor escalão, todos pecavam com uma luxúria descarada. Além, disso, observou o judeu, eles eram beberrões e mais devotados à cama do que qualquer outra coisa. Abraão constatou ainda que todos eram extremamente devotados ao dinheiro. Faziam mais comércio e corretagem das coisas divinas do que se fazia em Paris com relação aos tecidos e outros produtos.

Horrorizado com o que viu, o judeu volta a Paris e, contra toda a expectativa, converte-se ao cristianismo, absolutamente convencido de que só a mais santa e verdadeira das religiões pode resistir a uma tal depravação e difundir-se em tais condições.

– Além das propinas na Petrobrás, vocês brasileiros – despede-se o garçom em Florença – agora vão ter muito que aprender com ‘il buona gente‘ Henrique Pizzolato, mestre em corrupção com doutorado nas prisões italianas. Façam bom proveito desse nobre expatriado.