Um dos maiores gênios da literatura mundial tinha duas faces, revelando ao longo da vida o sorriso de Deus e a carranca do demônio. Nascido em berço de ouro, viveu a vida de sua classe privilegiada. Foi educado com refinamento por tutores estrangeiros e tinha inúmeros servos à disposição. Tornou-se um abastado proprietário de terras aos dezenove anos e imediatamente começou a dar mostras de sua tendência ao exagero, dissipando com prostitutas e jogatina. Vilarejos inteiros – e depois sua casa – foram vendidos para saldar suas dívidas. Fez jus à reputação de latifundiário depravado, tirando proveito de sua posição para abusar de suas servas. Tornou-se oficial do exército e, ao sentir o peso da consciência, renunciou aos direitos autorais de suas obras, dividiu suas posses e propriedades com os filhos e a esposa, lutou pelos miseráveis e se engajou no fanatismo religioso.

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Depois de confessar num dos seus livros que já havia cometido todos os pecados do mundo, durante trinta anos escreveu sobre o perigo do fumo e do álcool, chegando a inventar um drinque exemplar com os seguintes ingredientes: vodka, sangue de raposa, de lobo e de porco. Certa manhã, reuniu as pessoas de sua aldeia em frente ao único bar da cidade, puxou um pedaço de papel do bolso e o colocou sobre a mesa, ao lado de um frasco de tinta e uma pena. Subiu numa cadeira e fez um discurso sobre as pragas do tabaco e do álcool, rogando que cada homem presente assinasse no papel a garantia de que nunca mais iria beber nem fumar. Depois que todos assinaram, pediu que cavassem uma vala e enterrassem no mesmo momento cigarros, cachimbos, charutos e, para brindar a nova vida, que cada um jogasse o último drinque naquela vala comum. A vala da raposa, do lobo e do porco. 

O escritor se chamava Tolstói. Casado com Sófia Behers, sua dedicada esposa, filhos e descendentes nunca proibiram ou obtiveram lucros com as tantas biografias do autor de clássicos como “Anna Karenina” e “Guerra e Paz”.

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