Tristeza sem fim

Com a tragédia de Eduardo Campos, não foi só Pernambuco que perdeu um dos seus melhores filhos. O Brasil também perdeu uma de suas mais promissoras lideranças, numa época onde parafrasear a passagem da Bíblia se ajusta perfeitamente à nossa pobreza de quadros políticos: hoje é mais fácil um jegue passar pelo fundo de uma agulha do que um político entrar para o rol da ficha limpa.

E parafraseando também o Rui Barbosa, de tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra; de tanto ver crescer a injustiça; de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus; de tanto constatar a falta de educação, é de fazer rir o que a jornalista Lorena Aubrift Klenk contou no início da tarde de ontem aos seus amigos de Facebook:

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Na minha frente na fila do caixa do restaurante, agora há pouco, um pai jovem e bonitão, vestido com roupas e tênis de marcas caras, e a filha de uns 13 anos, com o uniforme de um dos colégios mais tradicionais da cidade. Toca o celular – é a mulher dele, contando sobre a morte de Eduardo Campos.

– Você me ligou pra isso? – diz ele, bem alto, fazendo questão que todo mundo ouvisse.

Em seguida, conta a notícia para a filha e complementa:

– Um só é pouco. Deveriam estar todos os políticos nesse avião.

A menina dá uma gargalhada.

Triste. Pagar o boleto do colégio caro deve ser o que esse pai entende por “dar uma boa educação”.

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Triste, sim. Uma tristeza sem fim. Especialmente em Pernambuco, aquele celeiro de gente boa e talentosa que a “Caetana” escolheu para passar a temporada.

“Caetana”, para quem não lembra, é aquela que no mês de julho nos levou assim, sem mais nem menos, o poeta Ivan Junqueira, os escritores José Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves e Ariano Suassuna – justamente o pernambucano deixou escrito: “A Moça Caetana já vinha se anunciando há algum tempo, mas o momento sempre é triste…”.

“Caetana” era o primeiro nome da morte, segundo Ariano Suassuna, que era tio de Renata, a esposa de Eduardo Campos, o neto do ex-governador pernambucano Miguel Arraes.

Desgosto não tem preferência, nem gosto. Ninguém sabe explicar por que agosto é um mês assim lazarento. No dia 1.º de agosto de 1914 começou a primeira guerra mundial e em agosto de 1939 começou a segunda. Longe daqui, aqui mesmo, no dia 24 de agosto de 1954o então presidente da República Getúlio Vargas se matou; forças ocultas fizeram com que o presidente Jânio Quadros renunciasse à presidência no dia 25 de agosto de 1961 e no dia 13 de agosto de 2005 morreu Miguel Arraes.

13 de agosto, de uma tristeza sem fim, é uma data para ser riscada da folhinha de Pernambuco.