Recebi mensagem de uma leitora da qual resguardo o nome, e do jeito que veio vai: “Por favor se vc é o dartagnan que fotografa as triboladas; preciso ver umas fotos antigas contigo. é do passado; mas é importante,grata.”

continua após a publicidade

Ela pergunta e eu respondo: não sou fotógrafo, já fui o Dartagnan, não sou mais.

Dartagnan é o titular de uma das mais antigas e lidas colunas da imprensa paranaense, a Triboladas. De pai para filho desde 1959, Dartagnan (ou Darta, como é conhecido na intimidade) é uma criação do jornalista Hugo Sant’Ana nos primórdios desta

. Na época, o editor Fernando Camargo pediu a Hugo Sant’Ana para criar uma coluna parecida com a do concorrente jornal Última Hora , onde em São Paulo e no Brasil fazia sucesso o humorista Arapuan.

continua após a publicidade

Hugo não apenas criou o colunista Dartagnan, como também inventou um fiel companheiro para o titular da Triboladas: Massachussets da Silva, e os dois, Darta e Massa, foram felizes para sempre. Tanto que até hoje, com algumas variações de estilo, a coluna de humor da Tribuna é campeã de audiência.

Em seguida, quando Hugo Mendonça Sant’Ana (não é meu parente) foi levado à chefia de redação e ao colunismo político da mesma Tribuna, Benedito Siqueira Branco incorporou Dartagnan por um breve tempo. Depois do criador, o Darta mais longevo foi o jornalista e escritor Manoel Carlos Karam (na caricatura). Esse reinado foi um dos mais criativos, tanto quanto foi brilhante a fase vivida por Francisco Camargo, jornalista que também carrega a marca do cartunista Pancho. Não se sabe qual dos dois era o melhor Dartagnan, ou o melhor Massachussets da Silva.

continua após a publicidade

O Massa marcou época em 1970, quando Dartagnan (digo, Karam) o enviou para cobrir a Copa do Mundo no México. Repórter de primeira viagem, Massachussets da Silva se perdeu no meio do caminho do México e ninguém sabia o paradeiro do pamonha. O mistério tomou conta da cidade. Certa tarde, quando Karam tomou um táxi (nunca dirigiu na vida, além de teatro), o motorista perguntou ao passageiro barbudo:

– Que coisa triste, o sumiço do seu colega da Tribuna! Será que ele não estaria perdido na floresta amazônica?

Manoel Carlos Karam fez do destino de Massachussets uma novela que só foi terminar uma semana depois do Brasil tricampeão.

Massachussets voltou e a fila andou: depois de Karam e Francisco Camargo, foi a minha vez de vestir a pele do Dartagnan. Por cinco anos, ou mais, escrevia diariamente a Triboladas, uma escola de humor, e também editava as fotos das garotas Bemboladas: marca registrada da coluna que deu origem ao baile e concurso carnavalesco Bemboladas, criado pelo gráfico Barriga.

Seminuas (com a genitália exposta dava inquérito), algumas delas eram recortadas de revistas estrangeiras, outras fotografadas na vida noturna de Curitiba, ou entregues na redação pelas próprias interessadas em exibir suas intimidades.

Bem a propósito, a mensagem que agora recebi da leitora fez voar a imaginação: não lembro o ano, uma dançarina de boate me procurou para publicar suas fotos. Propaganda gratuita, digamos. E assim foi feito durante meses, com sucesso, pois a moça era uma legítima Bembolada. Certo dia, a mesma dama da noite telefonou aflita:

– Por favor, rasgue as fotos porque vou casar de véu e grinalda.

Não passou muito tempo, a dançarina telefonou novamente, agora enfurecida:

– Você rasgou as minhas fotos? Não? Então volta a publicar porque eu me separei daquele canalha e voltei pra ativa.

******

Como é tradição na Tribuna, a identidade do Dartagnan de hoje não pode ser revelada. É segredo de estado, mesmo para as Bemboladas.