Três maravilhas de Curitiba

“Em busca da Curitiba perdida”, Dalton Trevisan não viaja na cidade para inglês ver. Na obra do Vampiro de Curitiba, Curitiba não tem pinheiros e o céu azul não é azul. Em busca da paisagem perdida, achei entre os guardados um volume com a coleção de crônicas radiofônicas de Evaristo Biscaia. “Coisas da cidade” era o nome do programa onde ele tinha a preocupação de mostrar aos curitibanos o que talvez tenha passado despercebido por muita gente.

Naqueles anos do pós-guerra, Biscaia escreveu uma crônica chamada “As três Maravilhas”, um retrato daquela cidade que ainda não tinha tantas maravilhas para inglês ver:

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“O espírito de certas pessoas, no tocante à criação de piadas, revela sabedoria. Numa dessas conversas de café, ouvimos que o paranaense nada fica devendo ao carioca, quanto aos ditos e anedotas. Tem também senso de humor e imaginação. Se não vejamos. Dizem à boca pequena que a cidade sorriso possui três maravilhas. E essas três maravilhas deviam ser exibidas aos turistas. Mas, quais as três maravilhas da cidade sorriso?

As moças da terra? O coreto da Praça Osório? A fonte encantada da Praça da Estação? Não meus ouvintes. As três maravilhas são: o Ginásio Estadual, o Clube Curitibano e o Café Alvoradinha.

Ora viva, isso sim! E de fato, são três preciosidades que orgulham a cidade. Vemos, portanto, que o curitibano é de fato inteligente e perfeito conhecedor das preciosidades da Capital. O Ginásio Estadual é de fato uma obra gigantesca que deu a Curitiba destaque no cenário nacional, quanto ao desenvolvimento do ensino. O Clube Curitibano é ponto obrigatório dos turistas, e sem dúvida o reflexo do fino requinte e da elevada cultura de nossa sociedade. E o Café Alvoradinha é efetivamente um ponto de destaque na nossa vida cotidiana. A instalação é moderna e muito fina, demonstrando o bom gosto dos que ali se dedicam às suas atividades. Além do saboroso café, é ponto de reunião obrigatório dos industriais, comerciantes, banqueiros, estudantes etc. Salve as três maravilhas da cidade! Vocês que me ouvem não estão de acordo?”

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O Café Alvoradinha ficava na travessa Oliveira Belo, embaixo do Palácio Avenida. Na parede havia um mural em alto relevo (ou baixo?) onde duas imagens se destacavam. Uma era um navio carregado de café, zarpando do porto de Paranaguá. Diziam dele os futuros membros da Boca Maldita, cansados daquela modorrenta Curitiba:

– Daqui saímos de saco cheio!

Na outra imagem, uma bela morena de seios generosos peneirando o café levava os frequentadores ao êxtase:

– Café com leite, da melhor qualidade!