Azia, má-digestão, calafrios e nervos à flor da pele, não se deixe tomar pela ansiedade de ir ao médico com suspeita de mal profundo e insanidade mental. O diagnóstico é simples e próprio da temporada: TPN. A Tensão Pré-Natalina é o primeiro sintoma de que o espírito natalino já era.

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O jornalista Rosnel Bond, curitibaníssimo que hoje mora nos Estados Unidos, tinha uma prática exótica para acabar com a TPN (Tensão Pré-Natalina). Uma semana antes do Natal reunia os filhos para distribuir presentes, durante uma ceia bem brasileira e com um detalhe fundamental: Rosnel se fantasiava de índio bororó, com penacho de plumas de papagaio e tudo, para afastar da prole a imagem de Papai Noel e, conseqüentemente, tentar acabar com o espírito consumista das festas de final de ano. Parece que deu certo: hoje todos os filhos são anti-noelistas convictos, principalmente a escritora Rosana Bond.

Pelo que acabamos de saber, a TPN é um mal em extinção na pequena cidade de Fluorn-Winzeln, no sul da Alemanha. Este lugarejo com pouco mais de 3 mil habitantes, localizado às margens da Floresta Negra, decidiu banir o Papai Noel da paisagem natalina. A Câmara Municipal, através de decreto, declarou a região uma “zona livre de Papai Noel”.

De acordo com o prefeito Bernhard Tjaden, o objetivo é preservar as tradições do Natal, frequentemente esquecidas nessa época do ano em favor do consumismo. A idéia é incentivar os cidadãos a substituir o “bom velhinho” pela figura histórica de São Nicolau, que ajudava pessoas carentes e era um amigo das crianças.

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Ao contrário do que se poderia esperar em Curitiba, onde o lobby dos noelistas militantes abriria uma guerra através de cartas indignadas aos jornais, em Fluorn-Winzeln as escolas e os comerciantes aderiram ao apelo, retirando as decorações com Papai Noel das vitrines e colando adesivos com um sinal de “proibido” em seus estabelecimentos.

É uma campanha anti-noelista organizada, dizem as agências de notícias: “Cartazes com o rosto do personagem atravessado por uma faixa vermelha adornam não só o interior de lojas e repartições públicas, mas os avisos, que se parecem com uma placa de trânsito, foram pendurados também na fachada do prédio da prefeitura e até junto à sinalização que marca as entradas do município. Nas salas de aula, professores ensinam às crianças o significado do Natal e contam histórias de São Nicolau, bispo de Mira no século IV, que serviu de inspiração para o ícone natalino. Os alunos são orientados a diferenciar o original da cópia e desenhos no quadro-negro mostram as diferenças entre os trajes de ambos, destacando a mitra episcopal no lugar do gorro vermelho e o cajado substituindo o saco de presentes”.

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Eis alguns dos sintomas já registrados da TPN.

Nervosismo: a filha vai passar o Natal e o Ano Novo numa praia deserta, junto com mais vinte amigos. A menina não sabe fritar um ovo, as amiguinhas são semi-anoréxicas e os rapazes… bem, os rapazes sabe-se lá o que vão levar na mochila, além de um estoque de energéticos.

Mãos trêmulas e suadas: é um sintoma da TPN masculina, reservada ao chefe de família com o cartão de crédito estourado desde o Natal passado. Essa epidemia vem acompanhada de uma gagueira intermitente depois de uma expedição de reconhecimento ao shopping mais próximo.

Histerismo: Com TPN, as crianças não acreditam em Papai Noel. Só acreditam em Ermenegildo Zegna, Gucci, Dolce & Gabbana, Fioruci e outros nomes natalinos tão famosos quanto. E ai de quem comprar um jeans Made in China: o filho vai precisar de uma camisa de força Armani.

No tempo em que se ganhava bolinha de gude no Natal, se o fulano aparecesse em casa com um regalo trazido da China, o piá corria contar aos colegas que o pai era o Marco Polo.

Para acabar com a TPN, sinceramente, só tem um remédio: chamar o Rosnel Bond, fantasiado de índio bororó, com penacho de plumas de papagaio e tudo.