O que estaria acontecendo com o time de marmanjos do Clube Atlético Paranaense? – perguntam os torcedores, já saudosos da gurizada que iniciou o campeonato. Há quem diga que, depois que instalaram o teto retrátil da Arena da Baixada, nunca mais choveu na horta do rubro-negro. Daí que desse time titular não brota mais nada.

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“Pero que si, pero que no”… a verdade é que os “muchachos” do técnico Claudinei de Oliveira desaprenderam de jogar futebol em sua temporada na Espanha. Tanto é verdade que até uma versão de “Touradas em Madrid”, a marchinha carnavalesca do compositor Braguinha, já está sendo cantada no Alto da Glória.

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Eu fui às touradas em Madri / Para tim bum, bum, bum / Para tim bum, bum, bum / E quase não volto mais aqui / Pois jogar bola desaprendi / Para tim bum, bum, bum / Para tim bum, bum, bum /
Eu conheci uma espanhola natural da Catalunha / Queria que eu tocasse castanhola / E pegasse o touro à unha / Caramba, caracoles, eu sou boleiro /Não me amoles / Pra Baixada em vou voltar / Mesmo com essa perna de pau / Para tim bum, bum, bum / Para tim bum, bum, bum

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Partindo do pressuposto de que o Coritiba vai usar a velha faixa de Campeão, restando ao Furacão o castigo de receber o arqui-inimigo na Baixada com relativa dignidade, vale a pena ler de novo o causo de Carlos Zatti, escritor, músico e compositor, profundo conhecedor dos usos e costumes da vida campeira.

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Sempre contada pelo Jaguara, o Animador dos Campos Gerais, é a história do Jango do Tamanduá, que levou seu humilde galo para brigar numa temida rinha em Papagaios Novos, nas bandas de São Luiz do Purunã. Lá chegando, Jango retirou seu galo calmamente da sacola bege e disse:
– Não haverá em Papagaios um galo taura, para esse frangote ordinário?

Pois havia um taura. E trouxeram o galo do tenente Pila, chefe de polícia. Um campeão de altas patas, longas as penas da cauda e olhos vidrados. Soltos na rinha, já arrepiaram as penas do pescoço, espreitando-se, e daqui em diante abro e fecho aspas para o que escreveu Carlos Zatti:

“E foi o zambo do Jango o primeiro a lançar-se ao ataque, saltando com investidas de tigre ao peito do campeão, de esporas em riste.

– Vamos meu zambo! – gritou Jango.

E foi com sanha: o bico feroz prendeu-se na crista do campeão e a espora sangrou o pescoço do seu adversário. Era um valente o frangote ordinário. Sangrando continuava combatendo com renovada fúria, batendo várias vezes seu peito, contra o peito do oponente, com suas longas esporas.
De súbito o campeão deu as costas ao outro e começou a correr simulando fuga.

– Vamos zambo, ele está fugindo – gritou Jango.

Aliviado da sufocação, o campeão deteve sua fuga e voltou; cravou uma cortante esporada no olho direito, esvaziou-lhe a órbita. O galo de Jango perdeu o equilíbrio e estatelou-se contra a parede.
Gritaria geral na assistência.

– Matou-o, tenente – falou o soldado Pereira.

– Vamos campeão – falou alto o tenente, após recuperar a fala – Acaba com esse merda, campeão!
Jango limitou-se a fitá-lo. Mas a rinha não terminou. Zambo, caolho e sangrando, voltou a procurar o adversário.

– Vamos, meu zambo! – gritou o dono sem olhar para o rinheiro, com o olho fixo no tenente.
E o zambo recostado na parede, juntando todas suas energias desesperadas, se lançou tal relâmpago de sangue e plumas, ao peito do campeão. A cutilada da espora, centuplicada pela velocidade da arremetida, penetrou no ouvido do contendor, jogando-o ao chão, pescoço curvo e trêmulo. Estendeu-se depois, teso, rígido, morto”.

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O exemplo cai feito uma luva para o técnico Claudinei de Oliveira. Basta botar nove pangarés na defesa, Mário Celso Petraglia no meio do campo e o zambo na frente.