Toma lá, dá cá!

Em política, diz quem é do ramo, tudo é permitido; exceto deixar-se surpreender. Portanto, não fique surpreso com o destino final dos candidatos a governador. No momento, estão de casamento marcado os seguintes pretendentes: Beto Richa, Gleisi Hoffmann, Requião, Rubens Bueno, Joel Malucelli e outros figurantes dessa novela onde o troca-troca de casais é fundamental para o bom andamento da trama.

“Troca de casais” é uma história real contada por Lúcio Borges, no livro “O Marumbi por testemunha”, envolvendo famílias dos primeiros colonizadores de Morretes, açorianos que viviam em sítios vizinhos da cidade. Eram famílias distintas, herdeiras dos costumes das ilhas, gente com espírito desbravador: “Na colônia Ponte Alta, existiu a família Farias, na qual pontificavam dois irmãos, guapos rapazes, altos, de porte atlético, casadoiros, muito cobiçados pelas jovens da localidade”. Chamavam-se Isaías e Jó.Nas vizinhanças morava a família Cassilha, de origem espanhola (Cassilla), um casal que, dentre outros rebentos, ostentava duas belas filhas para casar. Chamavam-se Isabel e Porcina.

A princípio na beira do Rio Nhundiaquara, depois a chegança em casa com a permissão dos pais, assim começou o noivado entre eles, os dois irmãos com duas irmãs: Isabel com Jó; Porcina com Isaías.

Conta Lúcio Borges, testemunha da paixão: “Viviam na maior felicidade os quatro jovens, namorando juntos, passeando juntos em grande camaradagem, comungando dos mesmos anseios e esperanças, ambos os pares como se fossem um só casal”. Depois do noivado, o casamento.

Os noivos, com suas fatiotas pretas, cada qual com sua flor na lapela, aguardavam na sala. As noivas, nos seus vestidos brancos, esperavam ansiosas em seus aposentos. Na hora aprazada, elas saíram dos seus quartos de braços com o pai, não sem dificuldades, pois a casa regurgitava de convidados. Com voz solene, o escrivão começou a leitura da ata: Isaías casando com Isabel.

Zumzum na sala, todos começaram a se entreolhar, os noivos perplexos, as noivas e os pais quase desmaiaram: Isaías se casando com Isabel? Quem iria se casar com Isabel não seria seu irmão Jó?

O que estaria errado? E agora? Não se podia rasurar a ata, fazer outros papéis não daria tempo. Teriam que adiar o casamento? Suspense na casa, os noivos e respectivas noivas foram a um canto, confabularam por algum tempo e então, cortando o silêncio ao meio, se dirigiram ao juiz. Disse Jó: “Senhor Juiz, para que tudo se resolva, nós chegamos a um acordo!”. Disse Isaías: “Eu caso com Isabel; e Jó casa com Porcina!”.

E o casamento foi realizado, viveram felizes para sempre, tiveram muitos filhos, e Morretes nunca mais esqueceu daquela bela festa de casamento.

 “Toma lá, dá cá!”, disse Jó a Isaías. O mesmo dirão os políticos depois do troca-troca.