Todos podemos!

Para a visita que faz esta semana à Espanha, o primeiro ecologista a governar um estado alemão, Winfried Kretschmann, preparou um discurso onde iria alertar os espanhóis que uma coalisão de partidos nunca é boa para a democracia. Onde os partidos ligados ao governo têm maioria absoluta, a oposição tem problemas para se fazer notar.

Kretschmann, governador de Baden-Würtemberg, se diz ainda preocupado com os partidos de direita, radicais que fazem dos ressentimentos contra os imigrantes uma alavanca eleitoral – o que de fato aconteceu domingo na França, com a vitória de Marine Le Pen. Pouco depois de ser entrevistado pelo jornal El País, foi interessante observar que o resultado das eleições para o Parlamento Europeu foram surpreendentemente favoráveis ao ponto de vista do ecologista alemão.

As urnas espanholas decretaram o fim do bipartidarismo. Pela primeira vez na história da democracia espanhola, os dois grandes partidos não superaram 50% dos votos: o conservador Partido Popular (PP) ficou com 26,05%  dos votos e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) com 23%. Faltou pouco, muito pouco mesmo, para tudo continuar como antes no quartel do primeiro ministro Mariano Rajoy (PP), que com a divisão das esquerdas foi um dos vitoriosos dessas eleições europeias na Espanha. Outro foi o jovem Pablo Iglesias, cabeça de lista do Podemos (7,96%), o partido que rompeu com a esquerda e a direita, ganhou seguidores, as primeiras páginas dos jornais e se converteu na grande revelação destas eleições, irrompendo como a quarta força política do país.

Pablo Iglesias, 35 anos, professor de Ciência Políticas na Universidade de Madrid, no Brasil seria confundido com um desses atores de novela com aparência rebelde. Amparado pelas redes sociais e o boca a boca, Iglesias dirige um partido com três meses de existência que, com apenas 130 mil euros, fez os conservadores pararem para ouvir: “Podemos!”. Sim, o slogan de Barack Obama, “Yes We Can”, virou partido político na Espanha.  

Agora com assento no parlamento europeu, o articulado professor não festejou o êxito eleitoral. No mesmo dia começou a trabalhar com outros partidos do sul da Europa para dizer aos vizinhos do norte: “Não queremos ser uma colônia da Alemanha”.

Caso Pablo Iglesias cruze com Winfried Kretschmann em Madrid, dirá o espanhol ao alemão ecologista: “Vocês podem passar o verão na Espanha, mas não vão pensando que são donos da praia!”.