Teste da farinha

Fontes confiáveis do governo arriscam dizer que o governador Beto Richa deveria contratar os serviços do Animador de Velórios dos Campos Gerais. O Jaguara não confirma nem desmente o convite do Palácio Iguaçu. Mas quando se trata de corrupção, ele não se nega a falar sobre o assunto e lembra de um caso parecido no governo do Paraná:

– Como em qualquer profissão do mundo, encontramos num mesmo balaio goiabas verdolengas, maduras e bichadas. O que não se pode dizer é que o pé da goiaba tá caindo de podre. Nos idos de 1800 e pouco, uma fonte do governo espalhou que na polícia de Curitiba tinha uma meia dúzia de três ou quatro soldados xibungos e um delegado rabeta.

Xibungo ou rabeta, explica o Jaguara, é o mesmo que homossexual. Quando saiu no jornal, a polícia pegou fogo. Imediatamente a chefia foi ao palácio botar o boato em pratos limpos:
– Governador, precisamos dar nomes aos bois. Se a gente não esclarecer quem são os xibungos e rabetas da corporação, a cidade inteira vai achar que somos um bando de morde-fronhas. E o que é pior, nossos homens estão sendo chamado na rua de mariquinhas, quando não dizem que somos uma tropa de esconde-cobras.

Como no palácio também tinha algumas bibas no armário – continua o Jaguara – e o governador era um omisso, no dia seguinte o palácio foi cercado pela polícia, com um ultimato:

– Ou o governo dá nome aos bois ou vamos apedrejar o palácio!

Com a corda no pescoço, o governador chamou o conselho de Estado para uma reunião de emergência. Depois de muita conversa jogada fora, com as feras rugindo no portão, prevaleceu o conselho do chefe de gabinete e chamaram o representante dos ultrajados para um acordo.
– Como se sabe que o boato é fofoca da oposição – disse o governador – vamos fazer o teste da farinha na polícia.

– Farinha de mandioca, governador?

– Farinha de trigo, para a marca do traseiro ficar mais exata. No senta e levanta dos nossos homens, vamos salvaguardar a reputação da maioria!

Jaguara não lembra se foi no governo do Sancho de Barros Pimentel, em 1882, ou no governo do Brasílio Augusto Machado de Oliveira, em 1885, mas o que contam lá nos Campos Gerais é que o apedrejamento do palácio acabou ali mesmo porque não acharam ninguém para atirar a primeira pedra.