No Século 19 o Paraná estava na moda. Na Europa não se falava em outra coisa, porque os agentes de imigração apresentavam Curitiba e arredores como uma Canaã. Na Polônia, principalmente, os marqueteiros de Dom Pedro II fizeram correr a lenda da terra prometida num folheto de propaganda:

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“O Paraná era uma terra encoberta por névoas e ninguém sabia de sua existência. Um paraíso onde corria leite e mel. Certo dia, a Virgem Maria, madrinha e protetora da Polônia, ouvindo os apelos que o sofrido camponês polaco lhe dirigia, dispersou o nevoeiro e predestinou-lhe o Paraná. Tal decisão a Virgem Maria comunicou ao papa, o qual, sensibilizado pelo destino da cristandade polaca, convocou todos os reis e imperadores da terra a sortear a posse de tal território. Por três vezes consecutivas foi tirada a sorte e sempre o papa era o contemplado. Então o papa solicitou ao imperador brasileiro que distribuísse essas terras aos polacos, para que tivessem a fartura e ali pudessem viver felizes, expandindo o seu cristianismo”.

Entre os intermediários de D. Pedro II, encontrava-se um italiano chamado Gergoletto. Em 1893, disfarçado de simples camponês, visitou centenas de aldeias e povoados ucranianos e russos, apresentando-se como Rodolfo de Habsburgo, herdeiro do trono austríaco que cometera suicídio em 1889.

Ao investir na propaganda internacional de imigração para o Brasil – no que deve ter sido o nosso primeiro Ministério do Turismo -, Dom Pedro II deu início ao serpentário da política brasileira: acenava com ilimitadas terras férteis, florestas, gado, dinheiro de graça para as despesas iniciais, casa, comida e roupa lavada. Além dessa bolsa família para substituir a mão-de-obra escrava, Gergoletto prometia fundar no Brasil o reino ruteno de Rodolfo de Habsburgo, livre da exploração por parte das cabeças coroadas europeias.

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Não se sabe ao certo com quantas promessas o italiano Gergoletto acenou para os eslavos atravessarem o nevoeiro do Atlântico rumo à terra prometida.Consta que ao se despedirem no porto de Gênova, Gergoletto pagou algumas garrafas de vinho numa cantina, onde teria dito aos russos, polacos e ucranianos da mesa:

– No Brasil não só corre leite e mel, como também o clima é um paraíso. Em Curitiba, por exemplo, vocês vão ter até neve para matar a saudade de casa.

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Também não se sabe ao certo que fim levou o italiano, depois daquela triste despedida:

Ten W?oski Jest Oszustem! – falou o polaco.

– O que ele disse? – perguntou o russo.

– Ele disse que o italiano é um vigarista! – respondeu o ucraniano.

– E é mesmo!– concordou o russo – Neve no Brasil? Esse italiano vigarista merece uma surra!