Como se fossem invisíveis, não é só em Curitiba que existem centenas de casas parecidas com aquela do Parolin, estourada pelos rebeldes da Polícia Civil. Uma mansão que acolhia senhores engravatados em torno de meninas de fino trato – conforme relatou uma “santa” vizinha: “Eu não sei se tinha prostituição. Acho que elas eram acompanhantes de executivos.”

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Na Terra do Faz-de-Conta o alto lenocínio também é invisível aos olhos e visível ao bolso. A diferença é que em Curitiba a cafetinagem de luxo está sujeita a imprevistos como esse do bordel 5 estrelas do Parolin, enquanto na Terra do Faz-de-Conta só existem dois bons motivos para a quebra do que foi tratado no fio do bigode: tráfico de drogas, exploração sexual de adolescentes. De resto, vale o que está escrito: não existe pecado do lado de baixo do Equador.

Na Terra do Faz-de-Conta, a “gaveta” é para uma cafetina o que o habeas corpus é para um advogado. É a garantia de impunidade, o atestado de bons antecedentes e o passe de ir e vir. Não fosse uma bem fornida “gaveta”, os rufiões da Terra do Faz-de-Conta não poderiam se gabar da impunidade.

Um único caso desestabilizou a Terra do Faz-de-Conta. Foi quando uma poderosa Baronesa que amava um xerife caiu em desgraça porque não seguiu a cartilha do lenocínio de luxo: drogas e tráfico de mulheres devem ficar longe dessa difícil vida fácil, ensinam os barões.

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Lilian era o nome de uma das mercadorias da Baronesa Faz-de-Conta. Vendida por 10 mil dólares, com 13 anos viajou virgem para as arábias e foi cadastrada na coleção de um poderoso sheik. Viajou o mundo a bordo de um tapete voador, conheceu todos os seis estrelas entre Roma, Paris e Nova York e com 17 anos voltou ao Brasil, deportada.

Certa noite de tédio no harém, Lilian tomou o maior porre de sua vida. Com mortal nostalgia, esvaziou a adega do príncipe. Desceu as escadas do palácio cambaleando, entrou na sala real e fez um escândalo. Mandou o sheik “tomar naquele lugar”.

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No dia seguinte, ainda cambaleando de ressaca, acordou num boeing de volta à Terra do Faz-de-Conta. Apesar de tudo, não voltou com uma mão na frente e outra atrás. Nem mesmo foi jogada no deserto do Saara. Com o dinheiro que amealhou durante aquelas mil e uma noites, comprou um bom apartamento e aprumou o futuro da família.

Sina do lenocínio, na casa da sorte o proxenetismo entra pela porta do prazer e sai pela porta do pesar. O que não acontece na Terra do Faz-de-Conta, onde à noite todos os gatos são pardos e gostam de um afago extra.