Xenofobia, o preconceito étnico ou cultural que ataca os imigrantes haitianos em Curitiba, vai além da injúria e do racismo. Como se não bastassem olhares e xingamentos, a intolerância agora se materializa na violência física. Conforme a reportagem de Fellipe Aníbal (manchete de primeira página da Gazeta do Povo de ontem), “o tórax do haitiano Mau­­rice, de 26 anos, ainda dói quando faz movimentos bruscos. Há pouco mais de um mês, ele foi espancado até perder os sentidos, por dois colegas de trabalho. O rapaz foi surrado depois de pedir que parassem de lhe ofender por sua cor e condição de imigrante. Além de, por mais de um mês, ter sido chamado diariamente de `escravo´ e de `macaco´, aguentava colegas que lhe atiravam bananas, como forma de ofendê-lo. Mais do que os ferimentos físicos, é a dor do preconceito que incomoda o haitiano” – relata o repórter.

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Vem de longe a caça às aves de arribação, entre os paranaenses. Os primeiros a sentir o gosto do desprezo foram os juízes forasteiros – deixou registrado o historiador Oney Barbosa Batista -, depois vieram os governantes que, de 19 de dezembro de 1853 até a Proclamação da República, eram todos de fora. Nesse período, o Paraná foi governado por 29 presidentes, dos quais apenas dois eram paranaenses.

Como já eram comuns os casos de nepotismo, o preconceito em relação à magistratura era considerável. Principalmente contra os juízes nordestinos que aqui pintavam o sete e ainda casavam com as mais belas moças da terra. Os nordestinos muito contribuíram para a história do Paraná. Pena que os hábitos de alguns daqueles magistrados causavam espanto entre os nativos.

Os maus exemplos eram motivo de protestos nas festas de Santa Felicidade. Em Ponta Grossa um juiz nordestino ficou mais de sete anos sem pagar aluguel da casa. Quando se aposentou e voltou para Pernambuco, o substituto conterrâneo não encontrou onde morar: os proprietários exigiam fiador. A ideia que o povo fazia de um juiz era a pior possível: caloteiro ou ladrão. Em Castro apareceu um magistrado de palavrório complicado que, nas horas vagas, se dedicava a surrupiar galinhas dos vizinhos, conta Oney Batista: “Usava a tática simples, de ladrão vagabundo: abria a fresta na cerca, jogava milho no quintal e as galinhas passavam; ela fechava a passagem, apanhava as galinhas e torcia o pescoço. Deliciava-se o bacharel do norte em banquetear-se com galinhas do vizinho”.

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São muitos os que ainda enxergam o Paraná como a terra de todas as gentes, onde a xenofobia não mais viceja. Somos a janela-cor-de-rosa do mundo, nada de mais grave nos aflige. Só temos cismas com gremistas, colorados, flamenguistas, tricolores paulistas e cariocas, palmeirenses e corintianos. E alguma implicância com os catarinas, é claro.