Tem boi na linha

Jaguara, o Animador de Velórios dos Campos Gerais, está sendo disputado por três operadoras de celular para ocupar o cargo de Diretor de Marketing. Só ainda não bateu o martelo porque nenhuma das telefônicas consegue completar a ligação.

Para assinar o contrato, é claro, Jaguara está procurando saber tudo tim-tim por tim-tim. Com essa gente, qualquer um tem que ser muito vivo. Mais precavido que gato escaldado, Jaguara foi ver como estava o clima nas lojas das operadoras no centro da cidade. Num rápido giro, vê-se que nem mesmo no velório do Alexander Graham Bell devia ter tanta gente se lamuriando pelos cantos.

Aliás, a própria história da invenção do telefone é a prova que nesse negócio ninguém é bobo. O italiano Antonio Meucci, reconhecido como o verdadeiro inventor do telefone, vendeu o protótipo do parelho para Graham Bell, nos idos de 1870, e passou o resto da vida pendurado na linha.

Atrás de informações de cocheira, o Animador de Velórios chegou à conclusão que, no que se refere à exploração de serviço público, desde o Império tem boi na linha.

Começou com as ferrovias, em 1835, quando o regente Diogo Antonio Feijó promulgou uma lei concedendo favores a quem quisesse construir e explorar uma estrada de ferro ligando o Rio de Janeiro às capitais de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia. A princípio, ninguém quis assumir o pepino. Só em 1852 um camarada chamado Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, teve peito para inaugurar, em 1854, a primeira estrada de ferro do Brasil: a Estrada de Ferro Petrópolis, cuja primeira locomotiva foi batizado de “Baronesa”, numa homenagem à esposa do Barão de Mauá. 

O problema do primeiro trenzinho caipira é que a linha férrea não tinha cerca de arame, como ainda hoje. Diante do descampado, os bovinos não encontravam qualquer dificuldade para ruminar em paz entre os trilhos. Naquele mundo sem porteiras, a “Baronesa” era forçada a parar toda a vez que encontrava um boi na linha. Diante do estorvo, os ferroviários se viam forçados a descer do comboio e espantar o boi ou boiada.
          
Desde o tempo da “Baronesa”, sempre que alguma coisa esquisita atravanca o progresso da nação, ou quando forças ocultas atrasam as obras públicas, o povo sabe a origem da encrenca: “Tem boi na linha!”.   

Jaguara, sendo nativo dos Campos Gerais, é o homem certo para o lugar certo, com a resposta certa: “É muito telefone para pouca linha. Nem sempre onde passa um boi, passa uma boiada!”.