Táxi contra o crime

Curitiba não é Gotham City, mas o Batman muito se orgulharia se os nossos taxistas projetassem o sinal do Morcego nos céus da cidade sempre que chamados para combater o crime. O Homem Morcego Bruce Wayne era filho de Martha e Thomas Wayne, brutalmente assassinados por um ladrãozinho pé-de-chinelo quando o casal voltava para casa depois de uma sessão de cinema, pipoca e hambúrguer. Se tal acontecesse em Curitiba, o órfão Bruce Wayne não passaria o resto da vida preso nos engarrafamentos da cidade com o seu “Batmóvel”. Simplesmente discaria 0800 e prontamente qualquer viatura “Batlaranja” viria em sua ajuda.

A rápida intervenção de dois destemidos taxistas (que não eram o Batman e seu fiel companheiro Robin) ao evitar que um criminoso levasse um bebê junto com o carro roubado no bairro Xaxim, não foi a mais espetacular ação dos taxistas de Curitiba. No dia-a-dia de Curitiba, centenas de motoristas vivem histórias tão emocionantes quanto Sandra da Silva Fernandes, a vendedora que estacionou o carro em frente à sua casa, desceu para pegar um objeto, tempo suficiente para que um homem levasse o carro e o filho Arthur, de três meses.

Dessas heróicas aventuras, história exemplar aconteceu no Alto da Glória ainda antes da invenção do GPS. Dona Helena morava sozinha e não precisava da presença de filhos, netos e bisnetos para viver bem. Bastavam-lhe uma assistente na cozinha e um velho piano Essenfelder, fabricado a poucas quadras de sua casa. Quando lhe faltava alguma partitura, o telefone lhe provia:

 – Radiotáxi, boa tarde!

– Aqui é a dona Helena. Por favor, pode pedir para o seu Antônio passar na F. Sartori e me trazer a partitura de “Rhapsody in Blue”, de George Gershwin?

– Pois não, dona Helena. Ele já leva.

Naquela noite Dona Helena estava ao piano justamente interpretando “Rhapsody in Blue”, quando sentiu algumas notas dissonantes numa janela dos fundos. Pé ante pé, subiu a escadaria e foi ver o que se passava pela janela do segundo andar. Eram três meliantes tentando arrombar a janela da cozinha.

Como já sabia que 190 serve para se chamar tartarugas, dona Helena ligou para o número do radiotáxi anotado na capa de uma das partituras:

– Meus queridos, estou aqui num apuro danado. Três indivíduos estão tentando entrar na minha casa pela janela da cozinha. Por favor, mandem um táxi urgente pra me socorrer!

Não deu nem dois minutinhos, não apareceu apenas um táxi para tirar dona Helena daquele apuro. Como num passe de mágica, surgiram dezenas de táxis em socorro da pianista.

Curitiba não é Gotham City, muito menos o milionário Bruce Wayne pegaria um táxi no bairro do Xaxim. Mas se o Batman chamasse um táxi num dia de chuva para combater o crime, ficaria horas pendurado no telefone.