Susete vai ao cinema

Da Água Verde para o mundo, a saga dos 720 italianos pioneiros que no século XIX imigraram para o Paraná vai virar filme baseado no livro Da Itália para o Brasil, o casal da capelinha da Água Verde, da pesquisadora Susete Moletta. Uma paranaense de São José dos Pinhais que hoje vive em Bassano Del Grapa, na região do Vêneto, Itália.

Susete vai ao cinema na voz de uma atriz de forte acento curitibano, como se fosse a própria Susete contando a história dos antepassados. Através de material de arquivo, fotos e filmes garimpados no Brasil e na Itália, o documentário Brava gente italiana pretende mostrar a história do Água Verde, berço brasileiro dos Fruet, Mocellin, Gabardo, Andretta, Campagnolo, Cunico, Moreschi, Lorenzoni, Todeschini, Bobatto, Ceccato, Basso, Bonato, Costa, Stofella, Maragno e tantos outros “oriundi”, além dos Moletta de Susete.

Depois de lançar o livro, Susete vai ao cinema porque conheceu o primo Carlos Moletta, reconhecido produtor cinematográfico do Rio de Janeiro de robusto currículo: Luz Del Fuego (1982), Águia na cabeça (1984), Fulaninha (1985), Jorge, um brasileiro (1987), As meninas (1995) e O Gatão de meia idade (2006).

Brava gente italiana vai ganhar linguagem semelhante aos documentários exibidos pelos canais de TV History Channel e Discovery. Está programado para uma duração de 75 minutos. Pretende ser exibido em salas de cinema no Brasil e em canais de TV do exterior, especialmente da Itália, a partir de 2009.

Para chegarem ao cinema, Susette e Carlos Moletta vão atrás de recursos junto a empresários paranaenses, muitos deles descendentes de famílias retratadas no filme, com auxílio dos mecanismos de incentivo fiscal do governo federal.

Para fazer cinema no Brasil é preciso antes de tudo muita fé e proteção divina. Para Susete ir ao cinema, ajuda do Céu não deve faltar. A fé dos imigrantes italianos terá como principal cenário a Capelinha da Água Verde, único altar que restou da antiga colonização, recentemente lembrada por um monumento erguido diante do cemitério no mesmo bairro.

Se Susete ainda não ganhou as telas, ganhou a capa da última edição da revista Insieme, voz da colônia italiana no Brasil. Para o editor Desiderio Peron, Brava gente italiana tem ainda o mérito de documentar uma face quase esquecida da imigração italiana: “Neste capítulo da epopéia da imigração revelam-se fatos ainda obscuros relacionados à falácia das promessas oficiais, que deram sucesso a contratos como o celebrado entre o governo imperial do Brasil e Joaquim Caetano Pinto, para trazer para cá cem mil colonos europeus. Os sem terra de ontem eram assentados nos mais inóspitos ambientes, privados de qualquer conforto, infra-estrutura, assistência e comunicação, seja pelo lado brasileiro, seja pelo lado italiano, cujos consulados com freqüência lavavam as mãos diante de casos rumorosos, como narra o livro de Susete, nos episódios da colônia Nova Itália, de Morretes”.

Susete vai ao cinema contar histórias de ranger os dentes e lavar a alma. Uma delas ainda é muita lembrada na Água Verde, a cada vez que doem os ossos: trata-se de Maria Polenta. Ou Maria Trevisan Tortato, nascida na Itália em 1880, brava mulher do bairro que se tornou uma das figuras mais populares de Curitiba. Costurava nervos, benzia, arrumava os ossos e conhecia tão bem as juntas da anatomia humana que são famosas as histórias de jogadores de futebol que a procuravam para curar a “perna-de-pau”.

Maria Polenta, que faleceu em 1959, hoje mais do que nunca faz falta ao Clube Atlético Paranaense.