Stephanes e Stefanello

O deputado federal Reinhold Stephanes não come mamona. Mesmo assim, os deputados ruralistas do PMDB tentaram derrubar o novo ministro da Agricultura acusando-o de não ser do ramo. Os adversários não sabiam com quem estavam lidando.

Com origens na fronteira do Paraná com Santa Catarina, Reinhold Stephanes desconhece fronteiras políticas: ex-ministro da Previdência Social de três governos que não falavam a mesma língua – Ernesto Geisel, Fernando Collor e FHC -, é ministro num governo de linguagem confusa e, se num futuro próximo os anarquistas tomarem o poder, lá estará o eclético economista para a salvação da lavoura.

Reinhold Stephanes sabe como salvar a lavoura desde o segundo governo de Ney Braga, quando era um jovem secretário da Agricultura assessorado por uma brilhante equipe de técnicos. Um deles era Eugênio Stefanello, diretor geral, que formava com o chefe uma respeitada ?dupla caipira?: Stephanes e Stefanello. O primeiro tinha a voz de apoio, o imediato a voz principal.

O economista Eugênio Stefanello é professor da UFPR e doutor em economia agrícola, um nome obrigatório na agenda de qualquer jornalista bem informado. Sempre com os números na ponta da língua, sua voz é inconfundível: ?Stefanello tem um sotaque ?ítalo-eclesiástico-gauchesco??, dizia dele o publicitário Sérgio Mercer. E quem ainda recorda de um dia típico da dupla Stephanes e Stefanello, na Secretaria da Agricultura, é o jornalista Valério Fabris.

Stefanello atendia a todos em torno de uma grande mesa abarrotada de papéis, e vários telefones. Um deles viva-voz, em linha direta com Stephanes. Normal seria receber, ao mesmo tempo, um jornalista, um produtor rural de Campo Mourão e o então chefe do Departamento de Economia Derli Dossa – lembra bem Valério Fabris.

Com o sotaque ítalo-eclesiástico-gauchesco, Stefa-nello respondia ao jornalista: ?É preciso considerar três pontos?. Sempre alinhavava o raciocínio com três pontos. ?Um, o Paraná é o maior produtor de trigo do País, mas está com a faca dos argentinos no pescoço. Isto porque… um momento que preciso tirar uma dúvida com RRénhôld? – assim era a pronúncia. Com viva-voz se comunicava com a sala ao lado. ?RRénhôld, você vai para Brasília hoje ou amanhã?? Todos escutavam: ?Vou amanhã!?, respondia curto e seco o secretário.

Então Stefanello se virava para Derli Dossa – ?Aquele relatório precisa estar na mesa do RRénhôld ainda hoje? -, para depois se dirigir ao produtor rural de Campo Mourão: ?Você precisa arrumar para o RRénhôld aquela receita do ?carneiro no buraco?. E voltava à entrevista: ?Segundo ponto: os argentinos congelaram o preço da tonelagem em US$ 120, enquanto no Brasil o valor é de US$ 223. Resultado…. desculpa, mas preciso perguntar outra coisa para o RRénhôld?. Ia para o viva-voz: ?RRénhôld, você vai para o aeroporto com o teu carro ou com o carro da secretaria??. Vinha a resposta: ?Com o carro da secretaria, Stefanello!?.

?Muito bem… mas antes de voltar ao trigo, preciso dar um recado para um colega.? Discava para um ramal interno: ?A bola eu levo. Você leva a carne, mas a lingüicinha tem que ser do Bizinelli. Carvão tem no clube!?. Desligava e ia ao terceiro ponto com o jornalista: ?O governo federal precisa tomar medidas urgentes para proteger nossos agricultores. Ou seja… um momento, preciso tirar outra dúvida com o RRénhôld?:

– RRénhôld, vai pegar o avião no Aeroporto do Bacacheri ou no Aeroporto Afonso Pena?

– Stefanello, quer saber de uma coisa? Vai plantar batata!

Já aposentado, pelo que se sabe Eugênio Stefanello nunca plantou batata. Mas sabe, como ninguém, quanto custa uma batata. Se o novo ministro da Fazenda levar o doutor em economia agrícola para Brasília, os deputados ruralistas vão ter que plantar muitas batatas com a dupla Stephanes e Stefanello.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna