Stalin das Araucárias

O que Iosif Vissarionovitch Djugatcvilli, mais conhecido como Josef Stalin, e Roberto Requião de Mello e Silva têm em comum, além do imenso prazer de enviar seus inimigos para a Sibéria?

O escritor Jamil Snege, amigo do governador, dizia que Roberto Requião era um gaiato. Um sujeito sardônico e sarcástico que, ao cultivar a imagem de excessiva austeridade e truculência, com a pátina do poder tornou-se um homem de ironia amarga. Humor mórbido, seria este o traço de personalidade comum entre Requião e Stalin. Um senso de humor que se manifesta em qualquer circunstância. Até mesmo num velório de enforcado, quando seria inconveniente tratar de cordames, nós e amarras.

Existe uma foto histórica de Stalin, onde o ?homem de aço? aparece de pé ao centro de uma mesa comprida e erguendo um copo de vodka para propor um brinde. No verso da fotografia está escrita uma história – ou seria uma piada? – que retrata o senso de humor mórbido que também caracteriza o governador do Paraná.

A cena é no Kremlin. Todo mundo comemorando a queda de Berlim, Stalin está dando uma festa para o seu staff, os camaradas de guerra. Sentado à mesa, um dos auxiliares de nome Ivan.

Ivan Ivanov trabalhava no mesmo corredor do ditador, no período da guerra. Um dia, com os alemães a poucos quilômetros de Moscou, Stalin encontra Ivan no corredor e ruge:

– O quê? Você ainda está vivo?

E segue em frente. Ivan quase desmaia, vai para casa e no colo da mulher chora que o fim está próximo. De manhã ele já vai estar morto. O casal passa a noite inteira acordado, à espera do pelotão de fuzilamento. Vem o amanhecer e Ivan não é preso. Finamente, depois de muita hesitação, volta ao trabalho.

Um ano depois, Stalin cruza novamente com Ivan no corredor. Dessa vez o guia genial dos povos fica fora de si:

– Não acredito! Achava que nunca mais ia ver você aqui!

Ivan percebe que dessa vez é realmente o fim. Vai para casa, se despede da família e, depois de outra noite de desespero, nada acontece. O pelotão de fuzilamento não veio com o amanhecer.

Aí vem a fotografia no Kremlin, a cena de comemoração da queda de Berlim. Josef Stalin faz um discurso patriótico e com o copo de vodka na mão conclama os camaradas ao brinde:

– Atravessamos uma época terrível juntos. Tivemos derrotas terríveis. Conhecemos a fome e o sofrimento. Mas nunca perdemos a coragem. Nunca fraquejamos, e o melhor de tudo é que nunca perdemos o nosso senso de humor.

Stalin então vira-se para Ivan Ivanov e ruge:

– Não é verdade, Ivan Ivanov?

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O retrato ainda veremos estampado nos jornais, a cena do governador se despedindo do Palácio Iguaçu. Roberto Requião dará uma festa no Restaurante Madalosso, aos auxiliares e demais autoridades constituídas. Com um copo de vinho Campo Largo na mão, o guia genial do Cangüiri conclamará todos ao brinde:

– Atravessamos uma época terrível juntos. Tivemos derrotas terríveis, especialmente contra os barões do pedágio. Conhecemos a fome e o sofrimento, tratados a pão e água pela imprensa canalha. Mas nunca perdemos a coragem. Nunca fraquejamos, e o melhor de tudo é que nunca perdemos o nosso senso de humor.

Requião olha para uma mesa ao lado, onde um melancólico grupo de promotores e procuradores do Ministério Público Estadual se enfara de polenta, e ruge:

– Não é verdade, Milton Riquelme de Macedo?