Sorte no azar

Tem governo que promete e não faz, o que é normal. Tem governo que promete e faz, o que seria normal. Tem governo que não promete, mas faz, o que é um milagre. Tem governo que promete, não faz e tem mais sorte do que juízo.

O presidente Lula foi um candidato que prometeu, não fez e teve mais sorte que juízo. Prometeu acabar com a política econômica de Fernando Henrique Cardoso, não fez e teve mais sorte que juízo. Apesar dos companheiros,dos aloprados, dos mensaleiros e da base aliada (esta sim, a herança maldita dos tucanos), nunca antes neste País a classe C foi levada ao paraíso e a classe média relaxou e gozou tanto em Nova York, por conta da sorte grande de um presidente.A sorte é tanta que até o azar jogou em seu favor. Ou não foi por sorte que o líder sindical teve o azar de perder três eleições na hora certa, no momento certo e na conjuntura certa?

Lula teve a sorte daquele deputado que se viu perante o ingênuo eleitor que lhe implorava o impossível:

– Deputado, minha filha está fazendo vestibular na Universidade Federal. Será que o senhor não podia dar um ajutório lá em Brasília para a menina passar?

– Impossível. Para falar a verdade, não há a mínima possibilidade de atender ao seu pedido. Mas, em todo o caso, não custa tentar o impossível! Qual o nome de sua filha?

O deputado puxou um papel do bolso, anotou o nome da garota e se despediu com um abraço caloroso. E se esqueceu do assunto. Tempos depois aparece o pai da estudante, todo sorrisos:

– Meu deputado! Minha filha passou na Federal. Se não fosse pelo senhor ela não ia passar nunca!

Todo candidato precisa de mais sorte do que juízo. É o caso do governador Beto Richa. Sua base aliada fez um escambo na Assembleia Legislativa e elegeu o manhoso ex-deputado Fábio Camargo para o Tribunal de Contas do Paraná.

Para um descendente de imigrantes libaneses (e não chamem um libanês de turquinho, pois esses “brimos” não dividem o mesmo narguilé), qualquer observador das arábias diria que filho do Zé Richa não fez um bom negócio: cumpriu o combinado e não recebeu o prometido.

Dizia o poeta e pensador francês Jean Cocteau: “Somos obrigados a acreditar na sorte. Afinal, sem ela, como explicar o sucesso das pessoas que detestamos?”. Mesmo quem não simpatiza com o Beto Richa deve concordar que foi melhor assim: antes que o pior acontecesse, em boa hora o trêfego desembargador Clayton Camargo renunciou ao seu protetorado no Tribunal de Justiça do Paraná. 

Por sorte ou azar, os fins justificam certos prejuízos.