Sábado passado no Juvevê, durante o banho de sol na praia do Jaime Lerner com o escritor Deonísio da Silva, aprendemos que nunca devemos abdicar dos nossos sonhos. Podemos abandonar o velho sonho, nos ensinava Jaime Lerner, mas o sonho nunca vai nos abandonar. Quando menos se espera, ele aparece por trás e, sorrateiro, vem nos desafiar: olha eu aqui de novo!

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Atualmente, tenho alguns sonhos acalentados. Muitos na gaveta, porém não abandonados. Nesta altura da vida, muitos dos sonhos são alguns poucos livros para o futuro. Um deles seria autorreferente, gostaria de contar histórias acontecidas em noites de autógrafos. Todo escritor, basta perguntar, tem um caso hilário acontecido nessas andanças para promover o livro. Andanças que muitos ainda enxergam como promoção para exercitar o ego.

Das histórias acontecidas em noites de autógrafo, a mais triste da literatura brasileira aconteceu com Nelson Rodrigues. Sem nunca ter saído do Rio de Janeiro por medo de avião, Nelson foi convencido a aceitar o convite para lançar uma de suas obras em Florianópolis.

– Vou, mas de automóvel! – concordou o dramaturgo que só viajava até o Maracanã.

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Depois de dois dias comendo poeira no trecho Curitiba/Florianópolis (com uma paradinha para se refrescar na bica da Santa), Nelson Rodrigues chegou ao hotel Rex poucas horas antes do evento na Livraria Catarinense. Tomou banho, descansou e, no finalzinho da tarde, lá estava ele numa mesinha aguardando os leitores com uma caneta na mão.

Esperou em vão, porque não apareceu uma viva alma para pedir autógrafo daquela celebridade que, além de suas crônicas no jornal, era um dos comentaristas do Jornal Nacional. Na mesma noite Nelson Rodrigues embarcou no automóvel com o motorista e nunca mais botou o pé além do Maracanã.

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O escritor Deonísio da Silva concorda com Jaime Lerner, o sonho não abandona ninguém. Numa noite de autógrafos dentro de uma igreja na cidade de 3 de Maio, no Rio Grande do Sul, a fila ia além da pia de água benta quando um menino lhe estendeu o livro para a dedicatória.

– O que você deseja ser quando crescer?
– Quero ser correspondente da TV Globo, em Londres!

Deonísio arregalou os olhos em sinal de respeito, abriu o livro na página de rosto e perguntou ao piá de cabelinho escovado:

– E qual o seu nome completo?
– Marcos Losekann.