Soldados do Paraná no Rio de Janeiro

Nos tempos em que se amarrava cachorro com linguiça e presidente da República com vergonha na cara dava um tiro no peito, os temidos soldados da Polícia do Exército (PE) do Distrito Federal vinham do Paraná e Santa Catarina.

Isto quando o Distrito Federal era no Rio de Janeiro, as prostitutas tinham orgasmos, os gigolôs sentiam ciúmes, cocaína era remédio, maconha uma diversão e os traficantes, além de viciados, ganhavam dinheiro de verdade com o jogo do bicho.

Agora em tempos modernos, com a Capital Federal em Brasília e a vergonha na cara banida da política, causa surpresa o envio de 500 militares paranaenses para o Rio de Janeiro, com a missão de pacificar o Complexo da Maré.

Os soldados paranaenses pertencem à 15.ª Brigada de Infantaria Mecanizada, com sede em Cascavel. Após mais de dois meses de treinamentos intensos, segunda-feira passada aconteceu a formatura dos militares, que inicialmente ficarão no Rio por três meses, mas o período pode ser estendido.

Uma crueldade com os nossos jovens soldados, nascidos nos campos de milho e soja e que só conhecem o mar através das novelas – imaginam alguns críticos da expedição pacificadora, desconfiados de que os nossos bravos soldados vão voltar para Cascavel mais malandros que a própria malandragem carioca.

Num dos anos seguintes ao golpe militar de 1964, foi mais ou menos o que aconteceu com um conhecido fotógrafo curitibano, já falecido, que aqui será chamado de Petrowinski. Com quase dois metros de altura, estatura de um cossaco, o filho do batateiro de Contenda tinha todos os requisitos da PE – o temido batalhão encarregado da segurança do presidente da República no Rio de Janeiro, também encarregado das missões especiais de combate aos comunistas e demais revolucionários de esquerda.

Petrowinski aprendeu muito no Rio de Janeiro, contava-nos na redação do jornal. Em suas “missões pacificadoras” nos morros, os humildes filhos de agricultores do Paraná e Santa Catarina voltavam com os bolsos cheios de maconha para, nos dias de folga, repassar por um bom dinheiro na Cinelândia – onde também faziam ponto para atender os abastados homossexuais da Zona Sul.

Foi com um deles – uma dessas celebridades que por força do conceito profissional não podiam sair do armário – que Petrowinski se deu bem. Muito bem, com motorista particular, engalanado, esperando na porta do quartel para os fins de semana de sonho na mansão da Gávea.

Muito anos depois, o então fotógrafo foi escalado para cobrir a entrevista coletiva de uma grande celebridade nacional no Palácio Iguaçu. Para sua surpresa, quando enquadrou o entrevistado na câmara Rolleiflex ouviu a voz que não lhe era estranha:

– Petrowinski, você por aqui?

Era o próprio, o famoso dono da mansão na Gávea.